Há praticamente 30 anos (completam-se em setembro próximo), o então Presidente da República Mário Soares dava o pontapé de saída num modelo de proximidade com as comunidades e as terras a que chamou Presidências Abertas. Ontem, segunda-feira, em Trás-os-Montes, Marcelo Rebelo de Sousa arrancou com a sua segunda “Presidência aberta”, a que chamou Portugal Próximo. Três distritos, Vila Real, Bragança e Guarda, em aproximadamente três dias.
Certo é que, com conteúdos mais alargados ou mais restritos, com o mesmo nome ou com novas designações, a iniciativa lançada pelo primeiro Presidente civil a ascender ao cargo depois de seis décadas de Presidentes militares tornou-se incontornável para os sucessores.
Nesta matéria há, de facto, um antes e um depois de Soares.
Não se pense, contudo, que o seu antecessor no cargo, Ramalho Eanes, ficou confinado ao Palácio de Belém. O primeiro Presidente eleito no pós-25 de abril também percorreu por diversas vezes o país – a primeira das quais aconteceu numa visita oficial ao Porto.
Mas, como recordou ao i Carlos Vargas, antigo conselheiro de Eanes, as viagens também tinham “na sua génese uma preparação temática – mais social ou mais económica -, mas não recebiam qualquer designação”.
“O Presidente tinha, tal como os seus sucessores, muita atividade em Belém. No primeiro mandato, sobretudo, não se realizaram muitas visitas oficiais pelo país. Quando viajou, Eanes optou quase sempre por deslocações com caráter mais informal. Essas viagens estavam orientadas para temas sociais ou económicos, mas tendo sempre atenção ao enquadramento político, para não ferir suscetibilidades”, adiantou.
A expressão Presidência Aberta ganhou “carta de alforria” só a partir da chegada de Mário Soares a Belém. A primeira arrancou em Guimarães, em setembro de 1986, seis meses depois da posse, e levou o então chefe de Estado aos distritos de Braga, Porto e Viana do Castelo.
“A cidade de Guimarães, outrora berço da nacionalidade, serviu de ponto de partida dessa nova forma de ‘auscultação das populações e das forças mais vivas de cada região’”, lê-se num documento da Fundação Mário Soares dedicado ao tema Presidências Abertas.
Ao todo estão registadas 11 iniciativas nos 10 anos dos dois mandatos em que esteve em Belém, com destaque para a célebre frase “ó senhor guarda, desapareça!”, proferida por Soares do interior do autocarro em que viajava no âmbito da Presidência Aberta na Área Metropolitana de Lisboa (janeiro/fevereiro de 1993).
Seguiu-se no cargo Jorge Sampaio, que prosseguiu o registo das Presidências Abertas do antecessor, mas inovou ao trazer para o debate na sociedade portuguesa as chamadas Jornadas Presidenciais.
Nesse âmbito de iniciativas temáticas, Jorge Sampaio promoveu por duas vezes ao longo do seu duplo mandato a Semana da Educação. Tal como o nome indica, essas jornadas fixaram-se no sistema educativo nacional.
A Sampaio sucedeu Cavaco Silva. Largando a designação Presidência Aberta, Cavaco privilegiou uma iniciativa que consolidou ao longo dos 10 anos que passou em Belém: os roteiros temáticos.
O primeiro a ir para o terreno foi o Roteiro da Inclusão, em maio de 2006, pouco mais de dois meses após a posse.
Seguiram-se os roteiros para a Ciência, Património, Juventude, Comunidades Locais Inovadoras, Futuro e Economia Dinâmica.
O objetivo destes roteiros, pode ler-se no site do Museu da Presidência, era chamar a atenção para os principais problemas do país nas áreas escolhidas, através de várias jornadas de trabalho pelo país.
Agora é a hora do Presidente Marcelo. A aproximação às gentes e às terras começou no Alentejo, nos dias que antecederam os 42 anos do 25 de abril de 1974. Entre 21 e 23 desse mês, o recém-empossado chefe de Estado visitou os três distritos alentejanos: Portalegre, Évora e Beja.
Por estes dias, Marcelo anda por Trás-os-Montes. Entretanto está já prevista uma terceira edição do Portugal Próximo, lá para setembro/outubro, na região das Beiras (Alta e Baixa).
O Presidente fez questão de esclarecer que estas ações, que abordam programas de cariz social, económico e cultural, visam combater a desertificação e dinamizar as atividades económicas do interior do país.