No CDS a pressão está toda sobre Assunção Cristas para assumir em nome próprio uma candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. A líder centrista ainda não tem uma decisão fechada sobre o assunto, porque terá sempre de ponderar o calendário de uma eventual crise política que a faça poder ter de vir a assumir o papel de candidata a primeira-ministra. Mas, sem outros nomes fortes para Lisboa, no partido, há cada vez mais quem defenda que Cristas deve avançar para as autárquicas de 2017.
Um dos argumentos para defender que Assunção se candidate a Lisboa está no historial de Paulo Portas à frente do partido. Os mais próximos do ex-líder dão o exemplo de Portas para explicar por que motivo Assunção Cristas não deve virar a cara ao combate autárquico.
A importância de mostrar peso em Lisboa em 2001 «Paulo Portas foi, como líder, a todas as autárquicas. Não falhou uma», sustenta um ex-dirigente centrista, puxando da História para demonstrar as vantagens de ter um líder que vai a eleições, mesmo quando elas não são fáceis.
As autárquicas foram sempre uma parte importante da estratégia de Portas. Em 1998, foram mesmo essenciais para chegar à liderança, afastando Manuel Monteiro. Paulo Portas tinha acabado de se candidatar à Assembleia Municipal de Oliveira de Azeméis, onde fez uma campanha que deu nas vistas e ajudou a um resultado surpreendentemente bom para os centristas num ano em que as autárquicas foram um desastre a nível nacional para o CDS.
Com esse trunfo na manga e a autoridade de quem tinha dado o corpo às balas, Paulo Portas conseguiu chegar à liderança no Congresso de 1998. «Ter sido candidato deu-lhe argumentos para se afirmar como líder, já que pelo menos tinha dado a cara pelo partido numas eleições que correram mesmo muito mal. Os partidos valorizam sempre muito isso», aponta um centrista.
Três anos depois, Paulo Portas precisava de um palco maior para a sua ambição política e uma candidatura à Câmara de Lisboa foi vista como ideal para esse objetivo. Durante mais de um ano, Portas fez uma campanha intensa na capital e colou pelas ruas um arriscado cartaz com a frase ‘Eu Fico’. A ideia era assegurar que a prioridade era Lisboa e que não usaria a autarquia como um trampolim para voos políticos nacionais.
O resultado ficou muito abaixo das expectativas geradas. Paulo Portas conseguiu ser eleito, mas o CDS não elegeu mais nenhum vereador para a Câmara de Lisboa em 2001. O desaire foi tão grande que o líder chegou a ter escrito o discurso de demissão. Não o leu porque, entretanto, António Guterres usou o argumento da derrota autárquica do PS para anunciar a sua demissão do cargo de primeiro-ministro.
«O discurso do pântano mudou tudo. E mais uma vez o facto de Paulo Portas ter sido candidato à Câmara acabou por ser fundamental para demonstrar que o CDS poderia ser o fiel da balança e uma peça essencial para conseguir uma maioria, como acabou por acontecer», sustenta um antigo dirigente do partido, recordando que esse percurso foi determinante para que Portas chegasse ao Governo em 2002.
As circunstâncias políticas dão muitas voltas e a história não se repete, mas não falta quem no CDS acredite que Assunção Cristas deve aproveitar as autárquicas de 2017 para ir a votos e provar o que vale. «É preciso ver se a simpatia se traduz em votos», comenta um centrista.
Prova da importância de levar Cristas a votos são as declarações de João Gonçalves Pereira esta semana ao Expresso. O recém-eleito líder da distrital de Lisboa do CDS não hesitou em defender que «Assunção Cristas é o melhor ativo do CDS para Lisboa», admitindo que «ficaria extremamente contente se o CDS pudesse ter a sua líder a disputar a eleição em Lisboa».
Assunção Cristas tem, porém, uma decisão difícil pela frente. Os sobressaltos na geringonça fazem crer que o ambiente político pode mudar rapidamente e que há o risco real de haver eleições legislativas quase a coincidir com as autárquicas.
O verão promete não ser fácil nas negociações à esquerda para o Orçamento de 2017 e a sua votação em outubro pode abrir caminho a uma crise. Em cenário está a ser ponderado no CDS e faz com que Cristas tenha de ter em conta a possibilidade de poder ter de fazer uma campanha para as legislativas que impossibilitaria a sua candidatura a Lisboa.
Coligação com PSD ainda é hipótese A pensar nisso e apesar da pressão interna para que Assunção Cristas avance para a Câmara da capital, a líder ainda não pôs de parte o cenário de uma candidatura conjunta com o PSD. No Congresso em Gondomar, Assunção falou na importância de o CDS se apresentar com uma «candidatura forte» a Lisboa, dando a entender que uma coligação estava fora dos planos. Mas fontes centristas asseguram ao SOL que não é possível neste momento descartar esta hipótese. «Da maneira como estão as coisas, temos de ponderar todos os cenários», afirma um dirigente do CDS, assegurando que tem havido sobre essa matéria um diálogo constante com a direção do PSD e que houve cuidado de «não fechar portas».
O único problema a esse cenário de coligação pode ser o facto de a estrutura local social-democrata não ficar contente com a ideia. A decisão final será sempre das lideranças dos dois partidos, mas não é possível esconder que entre os sociais-democratas há resistência a um acordo pré-eleitoral com os centristas.
Mauro Xavier, líder da concelhia de Lisboa do PSD, disse mesmo de forma clara em entrevista ao i que essa não é a sua solução favorita. «Não sou favorável a coligações pré-eleitorais», afirmou, fazendo votos para que «se tenha aprendido com os erros do passado e que haja duas candidaturas do centro-direita».