Enfermeiros em greve. “Ao menos que respeitassem o nosso sacrifício”

Arranca hoje o calendário de greves na saúde. Nélson, Mauro e Gonçalo dizem que a frustração vai muito além de não terem direito às 35 horas.

Estão na casa dos 30 e são os três casados com enfermeiras. É coincidência, mas a probabilidade de encontrar casos como os deles não será assim tão rara: sem fins de semana “normais”, sem feriados e a trabalhar por turnos, acaba por ser habitual casais em que os dois são enfermeiros. Os amigos fogem, explicam. Nélson, Gonçalo e Mauro são enfermeiros com contratos individuais de trabalho de 40 horas em hospitais públicos. O facto de a reposição das 35 horas na função pública não se ter estendido a este tipo de vínculo laboral fez disparar a tensão entre sindicatos e tutela mas, no caso da enfermagem, o caderno de reivindicações que levou à convocação de greves a partir de hoje inclui problemas mais antigos. A progressão na carreira está congelada, faltam enfermeiros nos serviços, as horas extra não são todas pagas e entram para bancos de horas que não podem gozar quando lhes apetece. 

Não há soluções à vista e as ações de protesto, que incluem mais greves, vão continuar até setembro, revelou ao i Guadalupe Simões, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses. À margem destas negociações entre sindicatos e tutela, Nélson, Gonçalo e Mauro fazem parte de um grupo informal de enfermeiros com contrato individual em diferentes hospitais. O grupo foi criado agora para fazer passar mensagens que acreditam que muitas vezes passam ao lado do público e dos decisores. Na linha da frente do atendimento, levam com os protestos dos doentes quando este corre menos bem, e também por isso entendem que está na altura de esclarecer e de os enfermeiros se unirem.

Uma ideia errada, defendem, é que ganham “muito dinheiro”. Gonçalo, de 38 anos, explica que já teve muitas vezes de desfazer esse mito. É enfermeiro desde 2002 e só no ano passado, com a nivelação dos salários para o primeiro escalão da função pública, teve o primeiro aumento: passou a ganhar, como a maioria dos enfermeiros, 1201 euros brutos. Há enfermeiros com 20 anos de profissão a ganhar o mesmo que recém-licenciados, tudo porque a progressão de carreiras está parada. Alguns acumulam com trabalho no privado, mas são a minoria, argumenta. 

 

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