Passadas pouco mais de 12 horas, José Sócrates reagiu às palavras do diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que em declarações à SIC confirmou que está aberta a porta a um prolongamento do prazo da Operação Marquês. “A data [para apresentação do despacho final] está fixada e em 15 de setembro logo vemos como estão as coisas”, disse Amadeu Guerra. “Arrogância”, respondeu o antigo primeiro-ministro, que se prepara para uma nova batalha judicial.
A possibilidade de a conclusão do processo poder ser adiada já tinha sido avançada pelo semanário “SOL”. Agora – e considerando que os meses de férias judiciais são só “para alguns” – Amadeu Guerra prefere esperar para “ver o que acontece”. O dia 15 de setembro, recorde-se, tinha sido a data apontada precisamente por Guerra para que o trabalho de investigação do Ministério Público estivesse concluído. “Ninguém mais do que nós pretende dar o despacho final nesse processo. Eu, em concreto”, garante o responsável máximo do DCIAP. A Operação Marquês, reconhece, é uma “prova de fogo”.
Processo contra o Estado Mas as novidades judiciais com Sócrates como protagonista não se ficam pelo desfecho da Operação Marquês.
Na conferência de imprensa que deu no Hotel Castilho (palco habitual das noites eleitorais do PS), o antigo primeiro-ministro anunciou que vai avançar com um processo contra o Estado. Precisamente por encontrar graves falhas na forma como o seu caso está a ser conduzido pelo departamento de Amadeu Guerra e pelo Tribunal Central de Instrução Criminal, sob a batuta do juiz de instrução Carlos Alexandre. “Irei processar o Estado, porque o Estado portou-se indecentemente, e irei recorrer a tribunais internacionais”, garantiu.
Operação movida por “ódio” José Sócrates – que é investigado pelos crimes de corrupção passiva para ato ilícito, branqueamento de capitais e fraude fiscal – não escondeu o incómodo perante o cenário em aberto deixado por Amadeu Guerra. E, em conferência de imprensa, fez questão de assinalá-lo.
“Ele [o diretor do DCIAP] não tem o direito de, com aquela arrogância, vir dizer à televisão logo se vê, logo se verá”, considera Sócrates, que coloca nas mãos do poder político a responsabilidade pela forma como o processo tem sido conduzido. “Tudo isto não podia ter acontecido sem motivações políticas”, volta a insistir.
“A primeira foi impedir-me de ser candidato a Presidente da República”, mas também terá servido para impedi-lo de “ter uma voz pública”, uma vez que a sua detenção, em novembro de 2014, teve como consequência o fim do programa semanal de comentário que protagonizava na RTP. “Por outro lado, e por consequência, também [pretenderam] prejudicar o Partido Socialista. […] É a terceira vez que acontece comigo e a direita política fez todo o possível, ao longo destes anos, para me combater pessoalmente”.
O processo será, aos olhos do antigo primeiro-ministro, movido “por ódio ou preconceito político”. Uma posição que nem será exclusiva de Portugal. Na semana em que os republicanos, reunidos numa convenção nacional, gritaram em defesa da prisão de Hillary Clinton (por causa das informações que constavam dos e-mails da candidata democrata à Casa Branca e que foram recentemente divulgadas), Sócrates colou-se ao caso da antiga primeira-dama norte-americana, a dizer que “a direita política, um pouco por todo o mundo, acha que agora a forma de atacar os adversários é exigir a sua prisão”.