Custa a acreditar que se passaram oito anos desde a primeira vez que vim a este convenção falar convosco sobre porque achava que o meu marido devia ser presidente”, começa por dizer Michelle Obama, depois de uma longa ovação da plateia presente na Convenção Nacional Democrata, em Filadélfia. Começam aqui 15 minutos de um dos mais emocionantes e bem conseguidos discursos da atualidade política. Michelle Obama, com a postura que a caracterizou durante os oito anos enquanto primeira-dama dos EUA, elogiou o trabalho do marido, afiançou a sua confiança em Hillary Clinton e, sobretudo, arrasou Donald Trump. Sem nem uma vez mencionar o seu nome. “Quando eles descem ainda mais baixo, nós subimos para um plano ainda mais elevado”, diz, acrescentando de seguida: “Não deixem que ninguém vos diga que o nosso país não é grande e que precisamos de o tornar grande de novo. Porque o nosso país é o melhor país à face da terra!” – numa clara referência ao lema de campanha de Donald Trump, “Tornar de Novo a América Grande”. Para terminar, Michelle Obama, que profere este discurso oscilando entre momentos mais emocionais e outros mais aguerridos, deixa um apelo: “Nesta eleição não podemos ficar sentados à espera que tudo corra da melhor forma, não nos podemos dar ao luxo de estar cansados ou frustrados. Entre este momento e novembro precisamos de fazer o que fizemos há oito anos e há quatro anos, temos de bater a todas as portas, conseguir todos os votos e usar toda a nossa força e paixão por este país na eleição de Hillary Clinton como presidente dos EUA, por isso mãos à obra!”
Mas este não foi o primeiro grande discurso de Michelle Obama. Apenas duas semanas depois de ter chegado a Washington, a primeira-dama fez um emocionante discurso sobre a desigualdade de salário entre homens e mulheres sem nunca ter deixado para trás as suas origens. “Eu e Obama fomos crianças que sempre souberam que o destino está nas nossas mãos”, disse.
Com Obama prestes a deixar a Casa Branca, a despedida pertence também a Michelle.
Ainda assim, o seu discurso na passada terça-feira na Convenção Nacional Democrata foi o mais emocionante de sempre. E mais uma vez, além do discurso politizado, as suas preocupações enquanto mãe estiveram sempre muito presente. “Nunca esquecerei aquela manhã de inverno, enquanto via as nossas filhas, com apenas sete e dez anos, a subirem para os grandes SUV pretos, com todos aqueles homens armados”, recordou e fez ainda saber o quanto isso, na altura, assustou. “A única coisa em que conseguia pensar era: o que é que estamos aqui a fazer? Naquele momento, percebi que o nosso tempo na Casa Branca formaria a base daquilo que elas viriam a ser. E a forma como nós geríssemos essa experiência poderia formá-las ou quebrá-las”, acrescentou mostrando o seu ar maternal. Ar esse que não deixou de parte quando se referiu neste discurso não só às suas duas filhas como à filha de Hillary Clinton, Chelsea. “Como em cada eleição, trata-se de quem terá o poder de formar os nossos filhos pelos quatro ou oito anos seguintes”, disse.
Uma história improvável Michelle La Vaughn Robinson nasceu a 17 de janeiro de 1964 e, ao contrário do que possa pensar, não nasceu num berço de ouro. Em pequena, viveu num pequeno apartamento que partilhava com os pais e o irmão, com o qual dividia o quarto. Situava-se em Chicago, num bairro pobre. Ainda assim, as dificuldades económicas não a impediram de lutar pelo seu futuro e seguir um sonho: Michelle estudou Direito na Universidade de Harvard e tirou depois o mestrado em Sociologia, em Princeton.
Mesmo durante a faculdade, não teve vida fácil e é bem conhecido o relato que muitas vezes conta de que uma colega pediu transferência de quarto por Michelle ser negra.
Aliás, o primeiro marco da vida de Michelle Obama está exatamente relacionado com a cor da sua pele, uma vez que terá sido das primeiras mulheres negras a frequentar a Universidade de Harvard.
Foi depois de ter voltado a Chicago, e de ter trabalhado no famoso escritório de advogados Sidley e Austin, que conheceu aquele que é hoje o seu marido e grande amor da sua vida: o ainda presidente americano, Barack Obama.
Os dois advogados – Obama também o era – conheceram-se no verão de 1989 quando Michelle foi convidada para orientar Obama, à data um estagiário. “Lembro-me de ter pensado que provavelmente não tínhamos nada em comum”, já chegou a dizer.
Afinal, tinham muito em comum e casaram três anos mais tarde, em 1992. Em 1998 nasce Malia, a filha mais velha e três anos mais tarde Sasha.
Quem conhece o casal, garante que nunca tomaram uma decisão sozinhos e tiveram sempre o apoio um do outro. E quando Barack Obama decidiu candidatar-se à presidência dos Estados Unidos, teve todo o apoio da mulher, que foi sempre o seu braço direito.
Nessa altura não hesitou em deixar tudo para trás - a carreira e a cidade – para apoiar o amor da sua vida.
A história de amor entre Michelle e Barack Obama é tão inspiradora que passou para as salas de cinema. O autor é Richard Tanne, que escreveu e realizou “Southside With You”, que relata o primeiro encontro e o primeiro beijo entre Michelle e Obama.
Michelle confessa que nunca pensou, devido à sua origem humilde, vir a ser a primeira dama dos Estados Unidos. Ainda assim, uma vez que o seria, prometeu fazer o melhor pelos Estados Unidos.
Apesar de todas as responsabilidades, Michelle nunca se desleixou do seu papel de mãe. A primeira-dama norte-americana nunca escondeu o orgulho que tem nas filhas. “A minha maior conquista como primeira-dama são as minhas filhas”, disse Michelle no mês passado.
A cara das causas justas Aos 52 anos, Michelle é dona de um corpo invejável e nunca escondeu que queria ver os norte-americanos a fazer exercício.
Nesse sentido, Michelle pôs mãos à obra e criou a campanha “Let’s Move” que tem como objetivo resolver um dos maiores problemas da população norte-americana, a obesidade. A campanha foca-se então na obesidade mas com destaque para a infantil.
E não basta ser Michelle a cara desta campanha como ainda faz questão de acompanhar as crianças em várias atividades físicas, além de pôr o marido, as filhas e outros membros políticos a fazer exercício físico.
Não é só a obesidade que preocupa Michelle. Desde os primeiros meses como primeira-dama, a mulher de Obama visitou frequentemente abrigos de desalojados. E não só. Michelle enviou também vários representantes a escolas e defendeu o serviço público.
Além da “Let’s Move”, Michelle é ainda o principal rosto da “Let Girls Learn”, uma campanha que apela à educação das raparigas. “Quando as crianças não vão à escola, a saúde das suas famílias e a saúde pública dos países sofrem”, defende.
O cargo que Michelle ocupa não a inibe de ser uma pessoa como tantas outras. O lado descontraído da primeira-dama é bem visível na aplicação SnapChat da qual é utilizadora frequente, apesar de a conta ter sido criada apenas no mês passado.
Segundo a Casa Branca, a conta foi usada para proporcionar às “pessoas jovens uma maneira divertida de acompanhar a viagem” que a primeira-dama fez com as duas filhas para promover a educação para as raparigas.
Pouco depois, em entrevista a Oprah Winfrey, a primeira-dama voltou a mostrar o seu lado descontraído e solidário. A igualdade de géneros foi um dos assuntos defendidos no programa.
Conhecida pela descontração em frente às câmaras, a primeira-dama acabou mesmo por ir parar ao youtube depois de ter cantado no Carpool Karaoke. No vídeo, que já conta com 34 milhões de visualizações, Michelle vai à boleia do ator James Corden e os dois dão origem a um verdadeiro dueto musical.
Questionada sobre se terá saudades do serviço de quarto disponível 24 horas por dia, Michelle respondeu com o característico bom humor. “Sete anos e meio de luxo foram suficientes. Isso é bom mas vamos ganhar liberdade”.
Prometeu nunca esquecer as suas origens e é isso que tem feito. “Tudo o que penso e faço gira em torno da vida que tive naquele pequeno apartamento pelo qual o meu pai trabalhou de forma tão dura”, disse uma vez.
Mulher, mãe, defensora dos direitos das mulheres, advogada e primeira-dama dos Estados Unidos. Tudo isto numa só mulher.
A brilhante história da vida de Michelle Obama foi escrita pela jornalista americana Elizabeth Lightfoot e lançada em 2008. Traz aos leitores o mais íntimo detalhe sobre Michelle. Michelle Obama deixa agora o papel de primeira-dama mas as suas ações ficarão, certamente, para sempre na memória dos americanos.