Hélder Amaral diz que as suas declarações em Luanda, no Congresso do MPLA – em que afirmou, por exemplo, que o CDS tem hoje «pontos em comum» com o regime de José Eduardo dos Santos – foram usadas por opositores internos no partido, como arma de arremesso contra a direção de Assunção Cristas. «Não prestaram um bom serviço à direção e ao partido. Se discordavam, tinham formas e locais próprios para o fazer. Gostava de ter visto mais coerência», afirmou ao SOL.
«Muitos deles tiveram, outros têm e alguns gostavam de ter relações com o regime angolano», acusa ainda o deputado, que se queixa que houve exagero e aproveitamento da situação. «Fui ao Congresso do MPLA com a convicção de servir o interesse nacional. Portugal tem que assumir-se como potência cultural mundial. Em termos de língua, por exemplo, o potencial da comunidade lusófona é extraordinário. O português é a terceira língua mais falado do mundo, o mesmo acontece na internet e Luanda é a segunda capital mundial com mais falantes», defende o parlamentar centrista, eleito por Viseu.
‘Não é o Hélder, é a direção que tem de explicar decisão’
Hélder Amaral conta que já se disponibilizou junto dos presidentes das distritais do partido «para falar com todos os militantes», se necessário: «Merecem uma explicação minha. Isso é uma questão de responsabilidade, assim como também o é proteger os interesses dos portugueses em Angola. Sou filho de Angola, como o William Carvalho também é, e nenhum de nós deixa de representar Portugal honradamente».
Depois de lembrar que não pertence ao núcleo de Assunção Cristas, Amaral não hesita em defender a líder e a opção do CDS em ir a Luanda: «Eu não sou membro da direção atual, mas creio que os que usaram as minhas declarações para a atacar foram de uma enorme falta de bom senso e sensibilidade. Insisto: não prestaram um bom serviço nem ao partido nem ao país. A direção recebeu um primeiro convite, ponderou e aceitou, pondo o país em primeiro e protegendo as relações especiais com Angola. Eu concordo com essa decisão. Se alguém teve alguma culpa, fui eu».
Filipe Lobo d’ Ávila, uma das vozes centristas que se manifestaram criticamente na semana passada e que é apontado como um dos contrapesos internos de Assunção Cristas, comentou ao SOL: «Não tenho qualquer polémica com o Hélder Amaral, com quem já tive oportunidade de falar. Não falei com ele por interpostas pessoas. Julgo que o seu esclarecimento é claro. Resta perceber do ponto de vista institucional e do ponto de vista da direção do CDS o que mudou para que agora se tivesse feito representar no Congresso do MPLA».
Uma fonte do partido contactada pelo SOL e que não quis ser identificada insiste na mesma ideia: «O meu problema não é com o Hélder e falei logo com ele. O meu problema é com a direção ainda não ter esclarecido o que mudou para nós irmos àquele congresso. Eu ainda me lembro de Paulo Portas criticar Cavaco Silva por simpatias com o MPLA».
Estrutura teme renovação
O SOL sabe que há membros da oposição a Cristas no CDS que estão descontentes com a crescente abertura e influência de independentes.
Numa tentativa de refrescar o partido, Assunção Cristas convidou, por exemplo, nomes como Mariana França Gouveia para a pasta da Educação do gabinete de estudos do CDS, o que caiu mal na ala mais ‘aparelhista’ que critica a líder por negligenciar a estrutura, preferindo ir buscar quadros novos. Ao SOL, um membro da Comissão Política Nacional acusa a presidente de «tentar trazer a sua casta para o partido quando havia gente com mais anos de casa».
Lobo d’ Ávila manifesta «compreensão por esse sentimento, embora tenha que se procurar um equilíbrio»: «O partido tem que ser uma soma de tudo. Temos que saber dar espaço e oportunidades sem nunca desvalorizar quem está no CDS desde sempre».
Assunção Cristas não tem um percurso de estrutura, tendo sido recrutada diretamente da sociedade civil – é professora da Universidade Nova, de onde também vem Mariana França Gouveia, que se filiou no CDS a seu convite.
Sem novidade, não crescem
Fonte próxima da direção centrista rebate as acusações: «Criticam se o partido não cresce, mas recusam qualquer mudança que faça o partido crescer. Não têm coerência». Assunção Cristas vê dificultada, assim, a tarefa de abrir o partido, com ex-deputados centristas a pressionar para regressarem ao parlamento.
Um membro da comissão executiva de Cristas defende, por seu turno, que «nenhum partido cresce se recusar novas caras, nenhum partido se credibiliza sem recrutar na sociedade civil e é o que Cristas tem feito: somando e não substituindo, trazendo novos nomes e somando-os aos antigos, e por isso diariamente continuam a aparecer João Almeida, Cecília Meireles, Mota Soares ou Nuno Magalhães».
Convite a Lurdes Rodrigues cai mal
Sobre a Escola de Quadros – com arranque a 1 de setembro, iniciativa com que o CDS marcará a sua rentrée após o verão –, Michael Seufert, ex-deputado, já veio criticar o convite à antiga ministra socialista Maria de Lurdes Rodrigues, que terá um debate com a deputada Ana Rita Bessa. Seufert escreveu no Facebook: «Ocorrem-me de repente uma mão cheia de antigos ministros da Educação mais interessantes e mais respeitáveis. Por outro lado, tem a sua graça que muitos dos presentes possam ver quem contraiu uma simpática parte da dívida, que vão andar a pagar até muito depois de se lembrarem que viram a figura num evento do CDS».
Seufert garantiu ao SOL que o seu desagrado se resume à figura de Lurdes Rodrigues: «Representa o pior que há na política e no serviço público. Na minha opinião, deve estar longe».
A Escola de Quadros é organizada pelo CDS e pela sua juventude partidária. Fonte ligada à iniciativa recordou ao SOL que «a Escola é sempre um espaço de debate», semelhante às do PSD e do PS», que devia ser mais valorizada no partido. Sobre a presença de Lurdes Rodrigues, defendeu a cortesia: «Devemos ser dedicados a quem convidamos».