Kim e a bomba de dez quilotoneladas

A Coreia do Norte explodiu a sua bomba mais poderosa até ao momento. O arsenal evolui com rapidez.

As explosões são cada vez maiores e o arsenal mais sofisticado. A Coreia do Norte detonou ontem a sua quinta e até ao momento mais poderosa bomba nuclear, a segunda só este ano, mais uma vez violando as sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A detonação subterrânea causou um sismo artificial de 5,3 pontos na escala de Richter, o que, segundo o Ministério da Defesa da Coreia do Sul, quer dizer que a bomba de ontem tinha, no mínimo, a potência de dez quilotoneladas, ou dez mil toneladas de TNT. Apenas um pouco menos poderosa do que a bomba que os Estados Unidos largaram em Hiroshima, em 1945. 

A detonação aconteceu às 9h00 locais, início da madrugada em Portugal. Os vizinhos Japão e Coreia do Sul confirmaram em poucas horas que o sismo artificial surgira de um teste nuclear subterrâneo e condenaram as ações do regime norte-coreano. O Presidente dos Estados Unidos foi informado nos ares, enquanto voltava dos encontros internacionais desta semana na Ásia. “Terá sérias consequências”, lançou Obama, já em solo norte-americano. Minutos depois, acordava ainda o mundo ocidental para as notícias de uma nova incursão nuclear na Coreia do Norte, o regime anunciava triunfalmente o teste, dizendo também que explodira uma versão em miniatura da bomba e que a podia instalar agora num míssil balístico. 

Os especialistas duvidam desta afirmação. A Coreia do Norte tem, de facto, evoluído na tecnologia usada para construir mísseis de longo alcance, mas está ainda a vários anos de conseguir instalar uma bomba nuclear suficientemente leve e resistente para suportar as temperaturas extremas do lançamento. Não por falta de tentativas: o regime intensificou exponencialmente o seu programa balístico, lançando só neste ano uns vinte foguetões de teste. Só na última semana, por exemplo, disparou três mísseis de médio alcance em direção ao Japão. Caíram na água depois de voarem quase mil quilómetros. 

Os mísseis podem ter falhado, mas revelaram um avanço importante nas capacidades norte-coreanas. Foram disparados em menos de um minuto de plataformas móveis – e não dos habituais lugares fixos –, evadiram inicialmente os sistemas de deteção japoneses e, numa melhoria inesperada, usaram os mecanismos de lançamento dos relativamente rudimentares mísseis Scud. «Isto é verdadeiramente um grande desenvolvimento», explica o diretor do programa de não-proliferação do leste asiático, Jeffrey Lewis, citado pelo Washington Post. «Países que queiram comprar mísseis norte-coreanos estão provavelmente atentos a isto.»

O desenvolvimento tecnológico que abriu porta ao disparo destes três níveis já se mostrara em agosto. Meses depois de ser ridicularizada por ter manipulado imagens que dizia ser de um míssil disparado de um submarino submergido, a Coreia do Norte mostrou-se realmente capaz de lançar um míssil debaixo de água – ainda rudimentar, que voou apenas 500 quilómetros e, uma vez mais, se despenhou a caminho do Japão. Este tipo de lançamentos preocupa Tóquio, Seul e Washington, uma vez que os mísseis lançados de debaixo de água são muito mais difíceis de detetar do que outros.

A Coreia do Norte conseguiu melhorar a qualidade dos seus mísseis e começou a usar combustível sólido, o que lhe permite dispará-los mais rapidamente e com maior alcance. Os países do Conselho de Segurança da ONUcondenaram ontem a nova experiência nuclear, incluindo a aliada China, que, no entanto, atacou também o acordo que a Coreia do Sul selou recentemente com os Estados Unidos para instalar um sistema antimísseis avançado no seu território, o THAAD, que Pequim acredita que pode ser adaptado para finalidades ofensivas e incitar comportamentos mais violentos dos seus vizinhos.

A China tem intensificado o tom da reprimenda ao regime norte-coreano com cada teste nuclear. A Coreia do Norte, por sua vez, tem também dado mostras de insubordinação, mesmo que o regime de Kim Jong-un esteja hoje dependente do comércio chinês e dos apoios económicos oferecidos por Pequim. Numa mensagem pouco subtil, os três mísseis disparados esta semana coincidiram com a abertura do encontro dos G20 em Hangzhou, China, e tinham alcance para lá chegar.