“Estou um bocadinho sem palavras” é a frase de Nuno Lopes para início de uma conversa ao telefone com o SOL, terminada a cerimónia da entrega dos prémios da 73.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza, que acaba este sábado e da qual o ator saiu com o Prémio Especial de Melhor Ator, na secção Orizzonti (Horizontes), na qual competia o filme “São Jorge”, de Marco Martins.
“O filme foi muito bem recebido aqui em Veneza e achei que havia a hipótese de ser premiado, mas não com o meu trabalho”, diz o ator que em “São Jorge” é Jorge, um boxeur que perde o seu emprego e que, para sobreviver, se vê obrigado a aceitar um trabalho noturno numa empresa de cobranças difíceis. “Desde ontem que sinto os pés fora do chão.”
O prémio foi entregue ao início da noite deste sábado mas a produtora Filmes do Tejo II foi informada na véspera, para que o ator pudesse regresar a Veneza, onde já não estava. “O bom de se ser ator em Portugal”, prossegue em declarações ao i, “é que há sempre uma tendência para se achar que é muito importante um prémio como este. E é, porque dá visibilidade ao filme. Mas isto de se estar num festival é ótimo durante esses dias, mas no dia a seguir… No dia a seguir em Berlim, onde estive [em fevereiro] a apresentar o filme do Hugo Vieira da Silva [“Posto Avançado do Progresso”], estava a limpar o chão para a peça de teatro que ia fazer a seguir. Essa parte de ter os pés bem assentes na terra é importante.”
E a verdade é que esta noite Nuno Lopes está em Veneza a receber aquele que é, até aqui, o maior prémio da sua carreira — em 2006 recebeu o EFP Shooting Star, em Berlim, que distingue um grupo de dez jovens atores europeus, em 2012, com o restante elenco de “Sangue do Meu Sangue”, de João Canijo, um CinEuphoria, e em 2005 o seu primeiro Globo de Ouro de melhor ator em Portugal, com “Alice”, a que se juntariam outros dois, em 2009, com “Goodnight Irene”, e em 2013, com “Linhas de Wellington” — e amanhã ao final da tarde estará em Lisboa, como DJ, na festa de encerramento do Entrada Livre, que assinala a abertura da nova temporada do Teatro Nacional D. Maria II.
Em "São Jorge", primeiro projeto com Marco Martins desde "Alice" (2005), Nuno Lopes é um boxeur que, para sobreviver, se vê obrigado a aceitar um trabalho noturno numa empresa de cobranças difíceis. Um filme sobre a crise que assolou Portugal nos últimos anos — o ator dedicou o prémio aos moradores da Bela Vista e da Jamaica, bairros dos subúrbios de Lisboa onde foi rodado o filme, que tem estreia comercial em Portugal no final de novembro.