Mais de metade (60%) das vagas que ficaram sem alunos colocados são de universidades e institutos politécnicos do interior do país e do Algarve. Ou seja, são estas as instituições de ensino superior menos procuradas pelos estudantes que querem tirar um curso de licenciatura.
E são precisamente estes os lugares que ficam a partir de hoje disponíveis para a 2.a fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior, que termina a 23 de setembro, com 8022 vagas disponíveis – o menor número desde 2010.
Das 8022 vagas a concurso há 4740 que são de 11 instituições do interior do país, a que se soma a Universidadade do Algarve, que tem vindo a atrair poucos alunos nos últimos anos.
Os dados divulgados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) revelam que, em traços gerais, este é um cenário que afeta mais os politécnicos do que as universidades. A grande fatia das 8022 vagas que ficaram por preencher são de politécnicos, que contam com cerca de 6200 lugares vazios. O Politécnico de Bragança é a instituição que ficou com mais vagas por preencher. Das 1825 vagas apenas ficaram preenchidas 540, tendo ficado 1285 lugares vazios depois da 1.a fase do concurso nacional de acesso. Segue-se o Politécnico de Viseu, com 562 vagas por preencher, o de Santarém com 493 e o de Castelo Branco com 454 vagas disponíveis.
Ainda assim, tanto os reitores como os politécnicos dizem estar satisfeitos com os resultados da 1.a fase (tendo sido colocados perto de 43 mil alunos) e esperam, frisam, que as vagas venham a ser todas preenchidas, havendo uma estimativa de 78 250 alunos colocados no final de todas as fases do concurso.
Para o presidente do Conselho de Reitores (CRUP), António Cunha, o combate à pouca procura dos alunos pelo interior passa por “criar cursos com maior atratividade, por criar grupos de investigação nessas instituições” ou até mesmo pela especialização das instituições em algumas áreas de estudo, reforçando a aposta em cursos de áreas específicas.
Já o presidente do Conselho Coordenador dos Politécnicos (CCISP), Joaquim Mourato, diz ser necessário “um ajuste e reorganização no número de vagas disponíveis” porque, “havendo uma oferta maior do que a procura”, este é um cenário que “vai sempre acontecer”. Além do ajuste de vagas, Joaquim Mourato defende a criação de mais programas “de estímulos e apoios para atrair os jovens” para as instituições de ensino superior do interior.
Recorde-se que o anterior governo lançou dois programas para atrair alunos para a região do interior: o + Superior, que atribuía uma bolsa de 1500 euros anuais a estudantes que optavam por tirar um curso numa instituição do interior, e o Retomar, que atribuía uma bolsa de 1200 euros anuais para atrair os alunos que acabavam por abandonar os cursos. Estes programas tiveram pouca procura dos estudantes.
O atual governo suspendeu estes programas e, agora, o ministro Manuel Heitor prepara-se para lançar um sistema de apoio para alunos que escolham uma instituição do interior através de uma bolsa de 1500 euros anuais, mas apenas para estudantes com dificuldades económicas e que beneficiam das bolsas de ação social.
Olhando para as áreas de estudo, os dados do MCTES revelam ainda que é para os cursos das engenharias, das ciências empresariais e da arquitetura que haverá um maior número de vagas disponíveis na 2.a fase do concurso de acesso ao superior.
Para a 1.a fase havia 50 688 vagas disponíveis onde foram colocados 42 958 alunos – mais 890 alunos que no ano passado – e metade (51%) ficaram no curso que indicaram como primeira opção.
Os resultados da 2.a fase do concurso serão divulgados a 29 de setembro.
Questionado pelo i, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior não comentou estes dados até à hora de fecho desta edição.