Estalou o verniz entre o PSD e a União Europeia. Habitualmente de uma postura europeísta, até apelidada de “bem comportada”, o PSD não gostou que o presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, anunciasse que Bruxelas deixaria de receber Durão Barroso como ex-presidente da Comissão Europeia passando a considerá-lo como “representante de um interesse”.
A ida de Durão Barroso para o departamento internacional da Goldman Sachs, como presidente não-executivo, causou polémica na comunidade europeia. A partir do momento em que o ex-primeiro ministro português aceitou o convite de um dos maiores bancos de investimento do mundo, as reações dispararam. Pierre Moscovici, um dos atuais comissários europeus, sugeriu que Barroso fizesse “uma reflexão”. François Hollande considerou o novo emprego de Durão como algo “moralmente inaceitável”, devido às ligações da Goldman Sachs à crise financeira.
Um abaixo-assinado com os nomes de múltiplos funcionários europeus também se declarou contra a “indecência”.
Pedro Passos Coelho, por outro lado, aplaudiu a ida de Durão Barroso para o banco de investimento, mostrando-se “muito satisfeito”. Não é por isso de estranhar que o líder da bancada social-democrata, Luís Montenegro, tenha considerado “um espetáculo que não abona nada a favor das instituições europeias” o facto de os privilégios de ex-presidente da Comissão terem sido retirados a José Manuel Durão Barroso.
Duarte Marques, deputado do PSD, lembra ao i que “a Comissão Europeia, no tempo de Barroso, aprofundou as regras de transparência, seja dos membros da Comissão, alargando o período ‘de nojo’, seja ao nível da própria banca, incluindo a Goldman Sachs”. Para Duarte Marques, “Barroso falará como presidente não-executivo da Goldman Sachs sempre que falar com a Comissão; o que não pode acontecer é retirarem-lhe direitos por ter sido presidente da Comissão.”
O deputado social-democrata sustenta que “o presidente não-executivo de um banco não é um lobista”, tendo responsabilidades, estatuto e funções diferentes. Para Duarte Marques, “se impingirem as regras de um lobista a Durão Barroso teriam que o fazer a António Vitorino, que é vice-presidente de um banco, ou a Romano Prodi, que foi presidente da Comissão e depois presidente de um banco”. Marques crê que a posição de Jean- Claude Juncker se deve a “pressões da esquerda europeia que está contra Barroso” devido às ligações do atual presidente da Comissão ao caso do Luxleaks. O ex-líder da JSD lembra ainda um primeiro parecer da Comissão que considerava a opção profissional de Durão Barroso como “legítima” e situada dentro do quadro da legalidade. Juncker terá pedido novo parecer recentemente. A provedora da Justiça da União Europeu declarou que é “o interesse público que está em causa”.
Fonte próxima de Durão Barroso admite que “ele não mediu bem as consequências disto tudo”, embora lhe pareça que “a Comissão está a exagerar”. “Já existiram casos semelhantes e nunca reagiram deste modo”.
Ao i, o eurodeputado Nuno Melo, do CDS, afirmou: “As pessoas têm que ter presente que o lobbying é uma atividade altamente regulada em Bruxelas. Estudos recentes apontam para a existência de cerca de trinta mil lobbyistas a trabalhar em Bruxelas, numa indústria que vale biliões em todas as áreas imagináveis. Eu considero normal [a Comissão Europeia passar a receber Durão Barroso como representante da Goldman Sachs e não como ex-presidente da Comissão] até pelo facto de ele ter sido presidente da Comissão e assim se excluir qualquer hipótese de conflito de interesses”.
Para Melo, a posição do atual presidente da Comissão Europeia não representa um ataque à figura de Barroso. “Do ponto de vista académico, entendo a preocupação do presidente da Comissão. Não vejo sequer qualquer ato hostil da parte de Jean- Claude Juncker o próprio Durão Barroso terá interesse em que a ambas as partes se protejam.”
O eurodeputado acredita que a Comissão Europeu agiu dentro do que era exigido pelas circunstâncias, justificando que “a Goldman Sachs é uma empresa com balcões em todas as grandes praças financeiras mundiais, vende títulos do Tesouro americano, interferiu em áreas negociais de contas públicas de países envolvidos na crise; pela natureza da Goldman Sachs, pela atividade da Comissão Europeia, pelas funções que Durão Barroso desempenhou e pelas funções que vai agora desempenhar poderia gerar-se um conflito de interesse, logo, a cautela é lógica”.