Prioridade na CGD é a capitalização, reestruturação é a 2.ª fase

Presidente da Caixa esteve reunido ontem com sindicatos e voltou a garantir que não vão existir despedimentos. Saídas só através de reformas antecipadas ou de rescisões por mútuo acordo.

A capitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) é a grande prioridade da nova administração do banco e só depois de este processo estar concluído é que avançará o plano de reestruturação, como se fosse uma espécie de segunda fase. A garantia foi dada pelo presidente do banco, António Domingues, ao Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI) e à Federação do Setor Financeiro no encontro que se realizou esta quarta-feira.

“A reunião correu bem e foi-nos dada a garantia de que o grande foco está neste momento na capitalização do banco, que é muito importante não só para a Caixa como também para o próximo sistema financeiro”, garantiu ao i Rui Riso, presidente do SBSI.

Esta garantia acaba por ir ao encontro do que foi revelado ontem pelo ministro das Finanças ao dizer que a capitalização da CGD foi “prioridade absoluta” do governo, já que ela reforça a capacidade do banco de dar crédito e aceder a financiamento mais barato.

Mário Centeno garantiu ainda que o governo quer fechar o montante a injetar na Caixa no prazo de dois meses. Ainda assim, admitiu que o valor de 2,7 mil milhões de euros de injeção de capital é um montante máximo acordado com Bruxelas. Isto significa que o aumento de capital da Caixa não está fechado e pode ficar abaixo daquele teto previamente negociado.

De acordo com o governante, o montante de recapitalização vai ser “apurado” através dos procedimentos acordados com a Comissão Europeia, “com o envolvimento dos auditores da Caixa, da administração e da Comissão Europeia”, disse o ministro no parlamento, onde esteve a responder a várias perguntas dos deputados.

Já comparar a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos à operação de amortização da dívida ao FMI (Fundo Monetário Internacional) é, no entender do ministro das Finanças, “leviano” e mostra incompreensão da situação.

“O investimento na Caixa é crucial para o sucesso da economia portuguesa. É preciso perceber esta importância para não ter a leviandade de a colocar a par de uma outra operação de gestão de dívida que tem a ver com a amortização do FMI. Fazer a comparação é não compreender o que está em causa”, disse Centeno.

REESTRUTURAÇÃO EM STAND-BY Já a questão dos 2500 despedimentos e o fecho de cerca de 300 balcões não foi confirmada por António Domingues neste encontro, já que está dependente da conclusão do programa de capitalização. Mas apesar de não adiantar os dados, Rui Riso diz que foi dada uma garantia: “Não vai haver despedimentos. Os trabalhadores vão sair através de reformas antecipadas ou através de rescisões por mútuo acordo”, garantindo ainda António Domingues aos sindicatos que “nunca pensaria noutra solução”.

Aliás, este tem sido um argumento várias vezes repetido por diferentes membros do governo. Ainda na semana passada, o secretário de Estado do Tesouro, Ricardo Mourinho Félix, respondeu a essa questão aos deputados: “Não é um plano de despedimentos. O que preconizamos é rescisões por mútuo acordo e reformas antecipadas”, disse.

PROGRAMA EM MARCHA Até este plano de reestruturação avançar, António Domingues lembrou aos sindicatos que os trabalhadores da CGD continuam a ter acesso ao “Plano Horizonte”. Este programa termina no final deste ano e podem ter-lhe acesso os funcionários que completem pelo menos 55 anos até 31 de dezembro de 2016.

Só no ano passado saíram da operação em Portugal 514 pessoas, com o “Plano Horizonte” a apresentar o maior peso. Já em fevereiro, a CGD disse que, além dos mais de 300 trabalhadores que saíram em 2015 ao abrigo daquele plano, em 2016 poderiam sair ainda mais 700 no mesmo âmbito. Já quando apresentou os resultados do primeiro trimestre, a Caixa revelou a saída de 103 colaboradores. Feitas as contas, só nos primeiros seis meses do ano, o banco gastou 20 milhões de euros com este plano.

Para já, outra das prioridades, de acordo com Rui Riso, é dar alguma “estabilidade e tranquilidade” ao nome do banco e a todos os processos que estão a ser levados a cabo.

Recorde-se que o Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD (STEC) tem vindo a defender que pode existir uma estratégia para diminuir a confiança na instituição, o que iria levar à diminuição da sua quota de mercado em benefício de outros bancos.

“As notícias que vêm a lume diminuem a credibilidade da Caixa e eliminam a confiança, e os outros bancos podem abocanhar parte da quota de mercado” da CGD, referiu.