José António Saraiva. ‘Foi a atitude mais sensata que Passos Coelho podia tomar’

O presidente do PSD pediu ao ex-diretor do “Expresso” e do “SOL” que o desobrigasse de apresentar o polémico livro “Eu e os Políticos”. José António Saraiva aceitou

Pedro Passos Coelho já não vai apresentar o livro de José AntónioSaraiva, “Eu e os Políticos – O Que não Pude (ou não Quis) Escrever Até Hoje”. O presidente do PSD e ex-primeiro-ministro telefonou ontem ao ex-diretor do “Expresso” e do “Sol” pedindo que o “desobrigasse” desse compromisso, até porque algumas pessoas com quem tem relações políticas poderiam sentir-se melindradas com aspetos do conteúdo do livro, nomeadamente “as questões privadas e pessoais”.
Um pedido que foi aceite, de imediato, por José António Saraiva: “Da mesma maneira que ele aceitou apresentar o livro sem me perguntar nada, desobriguei-o obviamente de o apresentar com a mesma rapidez”, disse Saraiva ao i.
José António Saraiva admite ainda que, ainda que a mudança de ideias de Passos Coelho tenha sido “inesperada”, a compreende. “Acho perfeitamente compreensível. Metendo-me na sua pele, e embora sendo contra os meus interesses, acho que foi a atitude mais sensata perante as proporções que esta história assumiu.”

Partilhar vivências. Em “Eu e os Políticos – O Que não Pude (ou não Quis) Escrever Até Hoje”, José António Saraiva procura revelar o que designa como “os bastidores dos políticos e da política”, apresentando para tal o perfil de 42 personalidades, sobretudo da política, como Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral, Francisco Pinto Balsemão, António Guterres, José Sócrates, António Costa, Miguel e PauloPortas, mas também de outras áreas, como António Horta Osório, Jardim Gonçalves e Margarida Marante. Segundo explica no epílogo do livro, o ex-diretor do “Expresso” e do “Sol” sentiu “a necessidade de partilhar as suas vivências”.

Uma partilha que inclui segredos da intimidade de alguns dos visados, e que tem gerado uma onda de indignação, cujo ponto alto foi, justamente, a decisão de Passos Coelho de apresentar o livro. Ao i, José António Saraiva admitiu que, se imaginasse a dimensão da polémica, não o teria convidado. “A apresentação de um livro é sempre um favor que pedimos a alguém. E não vamos pedir uma favor se tivermos a noção de que esse alguém vai sofrer dissabores pelo favor que nos está a fazer. É um princípio fundamental de educação. Olhando para trás, quando fiz o convite posso-o ter induzido em erro, não lhe explicando com o pormenor necessário a delicadeza de alguns assuntos do livro. Porque não calculei que isto fosse adquirir esta dimensão e esta visibilidade brutais. E a verdade é que a presença de Passos Coelho na apresentação era, de alguma maneira, um aval ao seu conteúdo.”

Conteúdo esse que refere, por exemplo, que “um militante destacado do seu partido é mentiroso”. Ou ainda, no capítulo mais criticado da obra, fala da opção sexual de Paulo Portas. “O Paulo Portas foi vice-primeiro-ministro de Passos Coelho. O facto de Passos estar presente na apresentação de um livro que pode ser incómodo para Portas, acabava por também ser muito incómodo para ele.”

Apresentação cancelada. Depois da decisão de Pedro Passos Coelho, a editora Gradiva, juntamente com o autor do livro, decidiram cancelar a sessão de apresentação de “Eu e os Políticos – O Que não Pude (ou não Quis) Escrever até hoje”, programada para dia 26, no El Corte Inglés. “Não quero que pensem que estou a fugir de assumir o livro. Mas a verdade é que o livro já não precisa de lançamento, com toda a publicidade que tem tido. É publicidade negativa, mas é publicidade”, disse José António Saraiva ao i. Também a Gradiva considerou que era do interesse de todos os envolvidos deixar arrefecer as polémicas em vez de acicatar os ânimos. Até porque existiam receios em torno da segurança, como o próprio autor assumiu ao i: “Podia ser um momento de confronto.

O Bush já esteve uma vez para levar com um sapato e isso foi evitado in extremis. Não digo que no atirassem com sapatos, mas com estes incêndios nas redes sociais podem ocorrer situações incontroláveis.”