Aviões ligados ao regime sírio bombardearam Alepo na noite de quarta-feira com uma violência que não se via há vários meses, possivelmente matando dezenas de civis, como afirmavam ontem vários observadores e ativistas, que, contudo, não tinham números exatos – os do Observatório Sírio para os Direitos Humanos davam conta de mais de 12 vítimas.
“Há fogo no céu”, contava um residente ao “Guardian”, que ontem falava de ataques aéreos indiscriminados e de casas em fogo na zona da cidade controlada por grupos rebeldes. Nas redes circulavam vídeos do que pareciam ser munições incendiárias, que ardem a centenas de graus e são regularmente usadas por aviões russos e sírios.
Apesar dos bombardeamentos em Alepo, onde ontem decorriam violentas batalhas entre forças do regime e oposição armada, representantes dos 23 países no Grupo de Apoio à Síria tinham um encontro marcado para o fim de tarde de ontem à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque. É lá que Estados Unidos e Rússia tentam reiniciar o cessar-fogo que negociaram e ao qual já poucos obedecem.
Washington quer que os aviões do regime deixem de voar em Aleppo, tentando convencer assim os grupos rebeldes de que continua a existir uma trégua – que nem americanos nem russos admitem ter terminado. Moscovo, por sua vez, culpa os grupos da oposição de violarem o cessar-fogo e quer que os norte-americanos introduzam mais grupos rebeldes na lista comum de “organizações terroristas”.
“Vai ser muito difícil”, dizia ontem John Kerry, o secretário de Estado norte-americano. “Vamos ver a que tipo de compromissos podemos chegar”, prosseguiu, admitindo, por fim, que o futuro da Síria “está pendurado por um fio”.
O envio de ajuda humanitária a populações cercadas depende de um novo acordo entre Estados Unidos e Rússia. Centenas de milhares de pessoas vivem com pouco ou nenhum acesso a bens essenciais, como água potável, alimento ou cuidados médicos, mas as Nações Unidas afirmam que só retomam o envio de auxílio na presença de “garantias de segurança dadas pelas várias fações do conflito”, como disse ontem Jan Egeland, conselheiro da ONU para a Síria. E só quando Washington e Moscovo alinharem os interesses é que isso pode acontecer.
O ataque da noite de segunda-feira a uma coluna do Crescente Vermelho em Alepo, onde também foi bombardeado um armazém com bens humanitários, paira agora como um alerta de perigo sobre as Nações Unidas. Os Estados Unidos culpam a Rússia, que, por sua vez, já insinuou que o ataque foi conduzido por um drone americano. O certo, como afirmou Egeland, é ter sido “o pior ataque contra uma coluna humanitária” em todo o conflito, para além de “sistemático, repetido e devastador”.