Tudo aconteceu no parque de estacionamento de um restaurante mexicano, em El Cajón, nos arredores de San Diego. Conforme foi explicado pelo chefe da polícia, Jeff Davis, numa conferência de imprensa, dois polícias compareceram no local, em resposta a uma chamada telefónica, tendo sido avisados de que um homem estaria a comportar-se de “forma errática” e a “caminhar no meio da estrada”.
A polícia explicou que o afro-americano, de cerca de trinta anos, se recusou a “tirar as mãos dos bolsos”, perante as ordens insistentes dos dois agentes. A certa altura “retirou do bolso da frente das calças” um “objeto”, e colocou-se em “posição de tiro”, comportamento que levou um dos polícias a disparar “várias vezes”.
Jeff Davis admitiu, depois, que o tal “objeto” não era uma arma de fogo, mas recusou-se a dizer do que se tratava. Durante a conversa com os jornalistas, o chefe da polícia apresentou, também, uma imagem, retirada de um vídeo gravado por um dos empregados do restaurante, que mostra a vítima em posição de disparo, mas na qual não é percetível que tenha qualquer objeto nas mãos. O homem acabou por morrer, vítima dos ferimentos causados pelos disparos.
Segundo o “The Washington Post”, várias testemunhas acusaram a polícia de ter “confiscado os telemóveis” de todas as pessoas que estavam no local, algo que foi negado pelas autoridades, durante a conferência de imprensa. Poucas horas após o abatimento, cerca de 100 pessoas juntaram-se no parque de estacionamento, num protesto pacífico contra a atuação da polícia.
É a terceira vez, em dez dias, que um cidadão negro é morto pela polícia norte-americana, em circunstâncias pouco claras. Há pouco mais de uma semana a polícia de Tulsa, Oklahoma, publicou dois vídeos que mostravam um outro negro, Terence Crutcher, a ser abatido, próximo do seu carro avariado, depois de, aparentemente, ter obedecido às ordens policiais.
Na passada terça-feira, em Charlotte, estado da Carolina do Norte, Keith Scott também foi morto pela polícia, motivando uma violenta onda de protestos, noite após noite, na baixa de cidade. As autoridades garantem que Scott tinha uma arma, mas a família diz que era um livro. As imagens divulgadas pelo departamento policial de Charlotte não foram, mais uma vez, esclarecedoras, para se perceber qual o “objeto” que a vítima tinha nas mãos.
A discussão à volta da violência policial nos EUA e da alegada atuação desproporcional dos agentes de autoridade, para com a comunidade negra do país, tem crescido de tom, nos últimos dias e foi um dos temas em destaque, no primeiro debate entre Hillary Clinton e Donald Trump, na segunda-feira. A candidata democrata defendeu uma política de diálogo e integração, envolvendo a polícia e a comunidade, ao passo que o magnata, que corre pelos republicanos, sugeriu uma abordagem assente em duas palavras: “lei e ordem”.