Depois do PSD passar semanas a insistir que não toma decisões sobre as autárquicas antes de março, – “não é tempo de nomes, é tempo de ideias” – José Eduardo Martins surgiu ontem como coordenador do programa eleitoral do PSD para Lisboa.
Os portugueses podem lembrar-se dele como secretário de Estado do Ambiente de Durão Barroso ou na pasta do Desenvolvimento Regional do executivo seguinte, de Santana Lopes. Mais recentemente, ganhou presença no comentário televisivo – primeiro na SIC, agora na RTP, e mantendo o Sem Moderação no Canal Q.
Nascido em 1969, na cidade de Lisboa, licenciou-se em Direito. Trabalhou com Pedro Passos Coelho na Juventude Social Democrata, tendo aderido à jota em 1985. Dois anos mais tarde, era militante do PSD. Foi deputado na Assembleia da República de 1999 a 2011, o mesmo ano em que Passos Coelho ascende a primeiro-ministro. A zanga entre ambos é antiga e conhecida e José Eduardo Martins esteve cinco anos afastado do partido, até ontem. Há meio ano afirmava que não havia “gente suficiente a pensar de maneira parecida” com a dele para criar uma alternativa. Agora, assume que “há muito tempo” que ele e o PSD não estavam “tão de acordo” em entrevista ao Expresso.
Francisco Mendes da Silva, colega de painel no Sem Moderação e dirigente do CDS-PP, conheceu o amigo num festival de música ainda hoje organizado por Martins, o Primavera Sound. “Disse-lhe que foi a segunda melhor coisa que fez na vida”. E a primeira? “Foi quando se zangou no parlamento com o deputado que insinuou que ele estava ali a defender clientes”. Mendes da Silva também é advogado e concorda com a reação porque “quem não sente não é filho de boa gente…”. O episódio em que Martins mandou um colega “para o c…” eternizou-se nos corredores de S. Bento.
Mendes da Silva conta que ficou mais próximo do novo coordenador autárquico do PSD lisboeta quando ele começou a participar no programa televisivo. “A melhor forma de definir politicamente o Zé Eduardo é: o que ele é na política é como pessoa. Uma pessoa aberta, que não deve nada a ninguém, genuína e com prazer de ser livre. Há tão poucas pessoas assim que ele é um bem essencial.”
Ideologicamente em divergência com ele – “ele mais próximo da consciência esquerdista do PSD e bastante libertário nos costumes” – Mendes da Silva reconhece o valor de José Eduardo Martins. “Acredito que ele herdou uma noção do trabalho que veio dos pais. O pai dele veio do norte e era um conhecido merceeiro no Bairro Alto. Ele valoriza a liberdade pelo trabalho, de usar os frutos do trabalho como quiser”. Desde 2005 que Martins exerce advocacia na Abreu Advogados.
Aí é colega e também amigo de Luís Marques Mendes. O antigo presidente dos sociais-democratas revelou ao i: “Temos uma relação profissional, pessoal e política. Conheci-o bem quando fui líder e até estou à vontade porque ele não me apoiou à primeira”, sorri ao telefone. “É um bom político, de pensamento bem estruturado, discurso atrativo e mobilizador e é uma pessoa com intuição na vida política. Tem os ingredientes importantes: a iniciativa, o discurso moderno e a solidez intelectual”.
Apesar de Martins recusar a ideia de ser ele o candidato a Lisboa, Marques Mendes considera que “se ele for ou se fosse candidato – eu não sei – não tenho dúvidas que faria uma campanha que surpreenderia pela positiva e ultrapassaria expectativas; muito dinâmica porque ele é muito bem preparado nestas matérias”. Tem também a vantagem de não ter estado ligado ao governo, o que “tendo sido uma tarefa patriótica, sem dúvida, deixa marcas”, admite o jurista.
Daniel Oliveira, também no Sem Moderação, conhece José Eduardo Martins desde os 14 anos – digladiaram-se num debate da JCP contra a JSD – afirma que “discorda politicamente” de Martins, mas que se trata das “pessoas política e intelectualmente mais bem preparadas do PSD e destaca-se”. “Está onde o PSD sempre esteve antes de Passos Coelho, no centro-direita moderado, não embarcou na deriva à direita”, analisa. “Tem uma característica não abundante na política: pensa para lá da frase feita. A participação dele no programa vai ser boa até para Fernando Medina porque o obriga a um discurso mais consistente. Se ele fosse candidato, e acho isso improvável, seria muito melhor que Assunção Cristas”.
Oliveira considera até que Martins tem “o carisma e a notoriedade” que faltam a Jorge Moreira da Silva, um eventual candidato do PSD. Mas se um dia o vir chegar a líder: “Pode contar a minha oposição”.