Os países que integram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) parecem ter chegado a acordo, pela primeira vez desde 2008, para estabelecer um teto máximo de produção de barris de petróleo diários. Com isto, o objetivo é fazer subir o preço da matéria-prima. Segundo avança a imprensa internacional, a meta que deverá ser estabelecida é a de 32,5 milhões de barris por dia, quando atualmente são produzidos 33,24 milhões. No entanto, existem ainda algumas arestas para limar, a primeira das quais é decidir a quantidade que cada país poderá produzir.
E essas conclusões só deverão ser alcançadas na próxima reunião informal da OPEP, que terá lugar em novembro.
O que falta acertar não se fica por aqui, até porque esta é uma história de parada e resposta, transformando o comércio internacional de petróleo praticamente numa “guerra de preços”. Mas, pelo que se sabe neste momento, a medida parece ser um volte-face na estratégia pensada pela Arábia Saudita, maior produtor de petróleo do mundo e o membro mais poderoso da OPEP.
Ao i, Eduardo Silva, gestor da corretora XTB, diz que os entraves ainda existentes se centram essencialmente em saber quem é que vai cortar, quanto é que cada membro irá cortar e se os produtores fora da OPEP irão seguir as mesmas pisadas. São as principais questões que ficaram por responder.
Há mais de um ano que os preços do petróleo têm sofrido uma diminuição, atingindo até mínimos históricos. Isto não foi mais do que uma estratégia do poderoso cartel da OPEP para manter a sua predominância no mercado, mesmo que, a curto prazo, isso significasse sacrificar os preços. O prémio era a manutenção da posição no mercado e a aniquilação da concorrência. Ou, simplificando, dos EUA.
Em meados de 2014, uma técnica inovadora de exploração de gás natural e petróleo realizada em jazidas de xisto betuminoso começou a ganhar força em algumas zonas do globo, mas especialmente nos EUA. Isto começou a ter efeitos nas quotas detidas pela OPEP. Dizia–se já que os norte-americanos, o maior consumidor mundial de petróleo, podiam ultrapassar, entre 2016 e 2017, a Arábia Saudita como o maior produtor do mundo, tornando-se assim cada vez menos dependentes do exterior. Ora, confrontada com este desafio, o objetivo da OPEP passou a ser levar estes projetos à falência. E a via mais simples de o fazer era uma: baixar os preços colocando em causa a viabilidade dos projetos e, por outro lado, obrigando os bancos financiadores a pensar duas vezes antes de abrirem os cordões à bolsa novamente.
Isto foi conseguido quando a OPEP decidiu não alterar a quota de produção em novembro de 2014, quando existia a expetativa de uma possível redução desses limites. Os preços caíram quase instantaneamente.
Por isso, Eduardo Silva analisa que “o Irão consegue ficar de fora destes cortes num volte- -face surpreendente da Arábia Saudita, que acaba por transmitir algum bom senso a todo o processo negocial”.
Agora parece que chegou a altura de voltar atrás com a estratégia. E para isso pode também ter contribuído o levantamento das sanções da União Europeia e dos EUA ao Irão pelo seu programa nuclear, que bloqueou as transações petrolíferas do país. E, por isso, já se diz que Irão, Líbia e Nigéria podem ter quotas especiais – medida que aparenta ser uma significativa cedência de Riade devido às divergências existentes com Teerão, que abrangem o campo político, religioso e económico.
O que mudou terá sido, por um lado, o falhanço do plano da OPEP e, por outro, a situação económica saudita, que também já conheceu melhores dias – o défice público ascende atualmente, e segundo o FMI, aos 13,5% do PIB.
Os analistas mantêm-se calmos e ainda com algumas dúvidas sobre o acordo que terá os seus detalhes acertados em novembro. Por isso, e se o dia começou com os preços a dispararem 6%, à medida que as horas passaram, o ambiente arrefeceu e os números estabilizaram.
O gestor da XTB explica, em relação ao que se pode esperar dos mercados, que “acima dos 50 dólares, e principalmente acima dos 60, o mercado fica atrativo para as explorações com maior custo de extração; logo, é uma limitação real à subida do preço do crude”. No entanto, “devemos considerar ainda que o dólar forte, o crescimento global fraco, o Irão a aumentar as exportações de ouro negro – depois de anos de sanções –, assim como a introdução de novas tecnologias mais limpas, vão continuar a exercer pressão negativa sobre a matéria-prima. Consequentemente, uma normalização da oferta parece limitada, no médio prazo, a esses níveis”.
Como fica a economia? Que efeitos pode gerar para as economias internacionais uma decisão destas? O gestor Eduardo Silva diz que, “ao limitar a produção de petróleo, a OPEP não resolve de imediato o problema da capacidade; no entanto, a primeira ação coordenada para impulsionar o preço em oito anos é um passo determinante nessa direção”. O impacto imediato a nível mundial é “um alívio nas economias dos países produtores, que vinham a ser devastadas pelo baixo preço do crude”. Mais do que isso, “o setor energético impulsionou os índices, principalmente o Dow Jones e o S&P500, cuja exposição ao setor é mais elevada. As petrolíferas irão igualmente beneficiar desta medida”.
Com este recuo na estratégia da OPEP, países como os EUA podem também sair beneficiados: “Voltamos novamente a assistir à entrada de players que têm estado afastados devido ao elevado custo de extração, principalmente nos EUA e Canadá. Nestes casos, esperamos que projetos para criar novas explorações possam vir a ser recuperados, fator que limita uma real escalada do preço do crude.”