Figura da Semana: O antigo primeiro-ministro que gosta de fazer contas

Começou a sua participação cívica nas juventudes católicas ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa e do padre Vítor Melícias. Cedo entrou no mundo da governação, mas deixou o país por estar desiludido. Agora quer ser secretário-geral da ONU.

Segundo rezam as crónicas, sempre teve o sonho de fazer carreira na ONU, mais concretamente no cargo de Comissário para os Refugiados. O desabafo terá ocorrido em 1999 quando enfrentava a campanha eleitoral das legislativas. Certo é que deixou a política portuguesa em 2001 e chegou ao lugar que tanto ambicionava em 2005, onde se manteve durante dez anos.

Depois dessa experiência muitos socialistas alimentaram a esperança de que se candidataria à Presidência da República contra o seu amigo Marcelo Rebelo de Sousa. Como se provou, Guterres não achou o desafio muito estimulante e investiu outra vez na ONU, só que agora para o cargo mais alto da instituição.

O homem que ganhou um prémio nacional dos liceus, quando frequentava o do Camões, nunca foi acusado de não ter sido um antifascista, pois nos tempos de adolescência destacou-se nas juventudes católicas, ao lado de figuras como o atual Presidente da República, ou o padre Melícias.

Certo é que entrou nos três primeiros governos provisórios como chefe de gabinete do secretário de Estado da Indústria e Energia  e foi eleito deputado em 1976.

Guterres foi primeiro-ministro de dois governos minoritários e, talvez por isso, não gostou do cartão amarelo que o Partido Socialista recebeu nas eleições autárquicas de 2001 e bateu com a porta, alegando que queria evitar que o país caísse num «pântano político».

Certo é que o seu nome, apesar de ter deixado o país à deriva, manteve sempre algum consenso e teve o apoio dos vários partidos para chegar pela primeira vez à ONU. Consenso que o seu sucessor no governo português, Durão Barroso, não teve quando optou por aceitar o cargo mais importante, em termos institucionais, da União Europeia, abandonando também a governação portuguesa. Os dois primeiros-ministros que decidiram por sua livre iniciativa não terminar o mandato à frente do governo têm estas coincidências. Sucederam-se na governação portuguesa e foram “lutar lá para fora”    Um tem o apoio generalizado dos partidos portugueses, o outro sempre foi achincalhado, já que fugiu do governo português… Ironias da vida.

António Guterres tem ganho sucessivas etapas na corrida ao cargo de secretário-geral da ONU, mas, tudo o indica, será tramado nas derradeiras votações. Afinal, o mundo é um enorme pântano político. Mas pode ser que aconteça uma surpresa agradável para Portugal.