No início da semana, a Federação Russa prometeu uma pausa, de oito horas, nos ataques aéreos à cidade síria de Alepo, durante a próxima quinta-feira. Mas o anúncio não foi recebido com grande entusiasmo junto da União Europeia e das Nações Unidas, que queriam mais pausas, com maior frequência e de superior duração.
A intenção russa, com a decisão de suspender os bombardeamentos que leva a cabo, juntamente com a aviação síria do regime de Bashar al-Assad, seria permitir que os civis abandonem as zonas de Alepo controladas pelos rebeldes, para poderem receber ajuda humanitária.
Por outro lado, Moscovo também pretende que os próprios combatentes rebeldes desocupem a cidade de vez. “Pedimos (…) [aos] países que têm influência sobre os grupos armados no leste de Alepo para a persuadirem os líderes a cessar as hostilidades e abandonarem a cidade”, confirmou na terça-feira o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, à agência TASS, citado pelo “Moscow Times”.
Face à desconfiança do Ocidente sobre a pausa programada para quinta-feira, a Rússia decidiu demonstrar a sua boa vontade neste assunto e revelou que nenhum bombardeamento seria levado a cabo por Moscovo ou Damasco, mais cedo que o previsto “A partir das 10 horas da manhã de hoje, os ataques aéreos conduzidos pelas forças aéreas russas e sírias, vão parar”, confirmou Shoigu esta terça-feira.
Uma antecipação que pode muito bem ter sido motivada pela desvalorização ocidental da intenção inicial russa. “Pode ser um começo”, disse Federica Mogherini, Alta Representante da UE, citada pela Al-Jazeera, na segunda-feira. “Mas a última avaliação das agências de ajuda humanitária é a de que são precisas [pelo menos] 12 horas para se chegar a um compromisso comum”, acrescentou.
Segundo o “New York Times”, residentes, médicos e ativistas, também se mostram “céticos” na avaliação à proposta russa, uma vez que, defendem, é necessária uma pausa mais “longa e mais sólida” para que a ajuda possa chegar efetivamente a Alepo.
Tendo em conta as palavras do ministro Shoigu, não é perceptível se a intenção da Rússia é a de alongar a pausa nos bombardeamentos até à próxima quinta-feira. As declarações do embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, não ajudam a desvendar esta eventual pretensão. Citado pelo “Guardian”, confessou que um cessar-fogo de 48 ou 72 horas “requererá algum tipo de compromisso mútuo”.
O falhanço do último acordo para pôr fim às hostilidades e o desabar das conversações de paz entre russos e norte-americanos continua bem fresca na memória dos líderes ocidentais, pelo que as expetativas de uma pausa efetiva nos bombardeamentos, continuam baixas.