Ontem, durante a saga da caça ao homem mais procurado do país, a GNR cercou as aldeias de Gache e Ludares. Os militares dirigiram-se para o local num carro de transporte de canídeos e foram seguidos, como tem acontecido até agora, pelos jornalistas que cobrem o caso no terreno.
A iniciativa tratava-se, afinal, de uma manobra de diversão criada pela própria GNR para tentar despistar os jornalistas.
Enquanto as televisões cobriam o cerco à aldeia de Gache, outro grupo de militares da GNR aproveitou a aberta para vasculhar uns casebres na zona onde foi encontrada a última viatura conhecida usada por Pedro Dias, a carrinha Opel Astra branca abandonada na aldeia de Carro Queimado na segunda-feira. Foi também neste carro – roubado após ameaçar um casal de idosos no domingo – que Pedro Dias deixou as calças que tinha vestidas durante o sequestro. Metódico, até agora usou sempre luvas.
“Ligação extraordinária com a natureza” Em paradeiro incerto há 11 dias, as autoridades sabem, no entanto, cada vez mais pormenores sobre a personalidade de Pedro Dias – particularidades que, à luz dos acontecimentos, não são animadoras. O suspeito descrito pelos amigos e conhecidos como “cordial” tem, afinal, uma vida dupla que nem os pais conheciam.
O fugitivo apenas terminou o 12.o ano e é, aliás, o único não licenciado da família. Um certo complexo de inferioridade poderá estar na base de uma tentativa de construção de uma personagem: sabe-se agora, por exemplo, que o brevet de piloto que Pedro Dias convenceu a família que tinha tirado era falso. Além disso, o suspeito dos crimes de Aguiar da Beira vivia de uma forma completamente desregrada e primitiva. Era seu costume sair a cavalo por dez dias seguidos sem levar mantimentos. “É um indivíduo com uma ligação extraordinária à natureza”, adiantam as autoridades. “Sabe onde procurar os alimentos e consegue alimentar-se de raízes e de bagas.” “É um homem preparado para qualquer situação.” Esta característica de sobrevivente e a ligação primitiva com a natureza – especialmente numa zona que conhece tão bem – pode dificultar ainda mais, pelas razões óbvias, o trabalho das autoridades.
Há, no entanto, mais dados que mostram que este não é um homem comum. A própria casa de Pedro Dias, onde os pais não entram há dois anos, é um espelho do lado mais obscuro do suspeito. Completamente desorganizada e pouco limpa, não se sabe se o fugitivo passaria aqui muito tempo. Já no seu carro foram descobertas mantas e víveres, “indícios de que ele passaria muito tempo no carro e que usaria a viatura quase como uma segunda casa”.
Se este estilo de vida era desconhecido até agora, os erros do passado que foram sendo “desculpados” estavam apenas esquecidos. Há 29 anos, tinha Pedro Dias 15, falsificou um cheque dos pais de dois mil contos: mais uma peça do puzzle da personalidade do homem mais procurado do país.