De ilustres desconhecidos a nomeados para um dos mais importantes troféus da música norte-americana. Os Hot Air Balloon, dupla formada pelo casal Tiago Machado e Sarah Jane Burk, foram apanhados de surpresa quando souberam, no dia 18 de outubro, que estavam nomeados para a categoria de Folk/Singer-Songwriter dos Independent Music Awards (IMA) pelo disco de estreia que editaram em abril, Behind Walls.
O álbum nasceu da simbiose que existe entre a guitarra de Tiago e a voz de Sarah, que se cruzaram, há seis anos, em Vigo, Espanha. Tiago, de Vila Nova de Famalicão, estava a estudar guitarra clássica. Sarah, que nasceu em Galway, na Irlanda, viveu durante dez anos na Galiza, estava por lá a trabalhar. «Conhecemo-nos, começámos uma relação e só depois é que o projeto da música começou a desenvolver-se», recorda Tiago Machado ao SOL. Quis o destino que os dois partilhassem casa na cidade espanhola com mais uma rapariga, e que viessem a descobrir-se como almas gémeas na vida e na música. Mas foram as melodias que acabaram por juntar ainda mais os dois. «Falávamos muito sobre música. Tínhamos muitos gostos em comum. Eu, pela minha formação na guitarra, tinha interesse por artistas mais técnicos, mas depois partilhávamos algumas referências, como o caso do gosto pela música dos anos 60 e 70, a soul, e claro a onda singer-songwriter que vai de Lisa Hannigan, a Fink ou a Damien Rice».
As composições dos Hot Air Balloon começaram a crescer naturalmente. Sem grande prognósticos ou intenções. Apenas as paixões que os uniam, com tardes e noites de sofá com uma guitarra no colo e vozes a soltarem-se pela casa. «Foi assim que começámos a escrever temas originais», explica o compositor, sublinhando a musicalidade que Sarah já carregava em si, fruto da influência da música na cultura irlandesa.
Tom Waits no júri
A naturalidade da forma de compor nunca se perdeu. Talvez o júri dos Independent Spirit Awards – que inclui nomes como Tom Waits, Lloyd Cole, Robert Glasper ou Susanne Vega – também tenha descoberto isso ao escutar a voz suave de Sarah acompanhada pela quente guitarra acústica de Tiago Machado e pelos ocasionais acompanhamentos delicados de bateria e baixo feitos por amigos que ajudaram a «enriquecer o disco».
«Foi uma alegria imensa quando soubemos da nomeação», diz o músico. «Mas claro que não esperávamos. Eu já nem me lembrava que, durante as férias, tínhamos concorrido aos prémios. E só de imaginar que o Tom Waits tenha ouvido o nosso disco e que o tenha avaliado é uma sensação fantástica». O resultado da nomeação vai ser conhecido no dia 12 de novembro, numa cerimónia no Lincoln Center em Nova Iorque, onde o guitarrista vai estar para ver se traz o troféu para Portugal. Como concorrentes, os Hot Air Balloon têm Amber Snider, Brooke Annibale, Calling Blue Jay e Lucy Wainwright Roche & Suzzy Roche.
Tiago Machado vai sozinho até Nova Iorque, mas por um bom motivo. Além de terem editado um disco em abril, os Hot Air Balloon também já fizeram um filho. O pequeno Dylan é mais um exemplo de que a música aproximou, para sempre, o rapaz do Porto e a rapariga de Galway. Digamos que é o terceiro elemento nesta banda de família e até já aparece em vídeos da banda: o pai toca, a mãe canta e o filho mama. «O disco é dedicado a ele por ser um símbolo do nosso amor. Esse vídeo [«Simple Love», que pode ser visto no Facebook da dupla] nem era para ser assim, mas o Dylan não parava de mamar e tínhamos que aproveitar a luz do dia! Ficou assim e ficou muito bonito. É uma música que a Sarah me dedicou pela forma como nos encontrámos».
A arte de fazer camisas
Por entre as exigências familiares, melodias e cordas das guitarras, Tiago Machado vai precisando de encontrar tempo para a sua outra profissão: ele é um dos herdeiros da Camisaria Machado, em Joane, Famalicão, que há 30 anos faz camisas por medida e para importantes nomes da praça, incluindo o primeiro-ministro António Costa, o líder da bancada parlamentar do PSD Luís Montenegro, o eurodeputado Nuno Melo, o homem mais rico do país, Américo Amorim, ou o agente desportivo Jorge Mendes. «O meu trabalho é a camisaria, mas consigo pegar na guitarra ou à hora de almoço ou ao fim da tarde. Assim consigo fazer tudo de forma mais espontânea e livre. Funciona como um escape». Mas o filho do alfaiate Alcino Machado não tem medo de meter as mãos na massa: «Faço um pouco de tudo! A parte da gestão, mas também a costura, pelo menos, e para já, em pequenas partes do processo. Agora já estou a aprender o corte e pouco a pouco vou-me integrando». Não deixa de ser uma outra forma de arte.