Viver para Contar: À beira Tejo

Junto à velha Central Tejo, surgiu um novo edifício que faz lembrar as obras de Frank Gehry, pela liberdade e leveza do desenho, e pelo acabamento em escamas.

ENQUANTO estudante de arquitetura interessei-me muito pela recuperação da Zona Ribeirinha da capital. A cidade de Lisboa tem uma localização privilegiadíssima, junto à foz de um grande rio, e nessa época não tirava o mínimo partido da situação. Entre o Beato e Algés, os pontos de contacto dos lisboetas com o Tejo eram inexistentes.

Fiz várias propostas, entre as quais o rebaixamento da linha férrea Cais do Sodré-Cascais na zona de Belém – considerando que a linha, juntamente com a avenida da Índia e a estrada Marginal, formava um verdadeiro ‘muro’ que separava a cidade do rio.

50 anos depois, embora muitas barreiras permaneçam – como a área reservada do Porto de Lisboa e a muralha de contentores em Alcântara –, já se percorreu um bom caminho no sentido de aproximar os lisboetas do Tejo.

A EXPO 98, eliminando uma lixeira imunda, foi um importante passo nesse sentido, proporcionando um amplo contacto com o rio na Zona Oriental de Lisboa.

Entre o Terreiro do Paço e o Cais Sodré também se fizeram obras meritórias, com a recuperação da Ribeira das Naus e a instalação de esplanadas, não esquecendo o novo edifício da Agência de Segurança Marítima. Em Alcântara nasceu um espaço de lazer na zona denominada das Docas, com múltiplos restaurantes, que se prolonga até à Torre de Belém – onde existe um grande relvado que se enche de famílias nos fins de semana e feriados. E depois há a praia de Algés – e um passeio pedonal que se prolonga pelo concelho de Oeiras.

O ‘muro’ constituído pela linha de caminho-de-ferro e pela Marginal não caiu, mas junto ao rio existem hoje áreas livres que os lisboetas procuram.

E NESSA LÍNGUA de terra marginal ao Tejo começaram a surgir obras de arquitetura.

Há 50 anos, ou mesmo há 20, quase não havia obras emblemáticas à beira rio. Existiam, claro, a Torre de Belém e o Padrão dos Descobrimentos (a cuja construção assisti, e que replicava um modelo construído em gesso para a Exposição do Mundo Português em 1940). E existia o edifício da Central Tejo, depois reciclado em Museu da Eletricidade. Mas pouco mais.

Ora, o panorama mudou por completo. O que está a dar, hoje, é construir junto ao rio. Na Expo, nasceram o Pavilhão de Portugal de Siza Vieira, com a famosa pala, e o Pavilhão Atlântico, rebatizado de Meo Arena. No Cais do Sodré surgiu a dita agência europeia projetada por Manuel Tainha, com quem trabalhei longos anos.

E não junto ao rio, mas nesse mesmo eixo Cais do Sodré-Belém, temos o novíssimo edifício da EDP na avenida 24 de Julho, o novo Museu dos Coches e  o Centro Cultural de Belém. Mais diante, de novo à beira Tejo, nasceram o Hotel Altis-Belém, de Manuel Salgado, e a Fundação Champalimaud.

Um luxo!