PSD mais ‘próximo’ de Cristas em Lisboa

Santana cada vez mais longe e com sondagens a recomendar cautela fazem PSD pensar em Assunção Cristas. Coordenador do programa autárquico para Lisboa, José Eduardo Martins, não descarta a hipótese. Direção nunca o fez.

A vida não está fácil para o PSD/Lisboa. Depois da nomeação surpresa de José Eduardo Martins para coordenador do programa autárquico ter causado algum mal estar na Comissão Política Nacional do partido, Mauro Xavier ­– o presidente da concelhia lisboeta – viu-se a braços com a irreverência do homem que ele próprio havia convidado. 

José Eduardo Martins não teve meias medidas e nas várias entrevistas à comunicação social depois de aceitar o convite foi deixando várias críticas à ausência de oposição que, a seu ver, havia caracterizado a atuação do PSD em Lisboa. O coordenador do programa para a capital incorria assim no paradoxo de estar a criticar as tropas do homem que lhe fizera o convite. 

Mas o parodoxo não acabou aí. Mauro Xavier fez saber desde o princípio que era contra a ideia de o PSD apoiar uma candidatura do CDS a Lisboa. Depois de Assunção Cristas, a presidente dos centristas, anunciar a sua entrada na corrida para as eleições previstas para outubro de 2017, a posição de Xavier não se alterou. Teve, aliás, sintonia com a opinião de Pedro Santana Lopes. 

Alguns sociais-democratas deduziram que o convite a José Eduardo Martins visava precisamente o afastamento de qualquer hipótese de a direção de Passos Coelho, que possui sempre a palavra final, apoiar Assunção Cristas. 
O tiro, conta ao Sol um deputado social-democrata, «pode ter saído pela culatra». «Mauro Xavier sabia que o Zé Eduardo não se subordina a ninguém e mesmo assim arriscou». 

Martins volta a contrariar o líder da concelhia quando, numa grande entrevista ao jornal i admite que «pode existir uma coligação com o CDS para a Câmara de Lisboa» e que está plenamente de acordo com Assunção Cristas quando esta diz: «se o CDS tivesse uma candidatura apoiada pelo PSD estaria a discutir a presidência da Câmara».

Ao abordar a questão de forma tão assertiva, contrariando o PSD/Lisboa, Santana Lopes e até Marques Mendes, que é seu próximo, Martins deixa as possibilidades de uma coligação de direita para Lisboa bem abertas. 

O SOL sabe que a coordenação autárquica do PSD nunca descartou verdadeiramente uma coligação na capital em 2017, preferindo, estrategicamente esperar pelo prazo limite (Março) e por sondagens. O SOL sabe também que sondagens internas do Partido Socialista colocam Cristas como única candidata da direita a disputar o primeiro lugar com Fernando Medina, o atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Sondagens internas do PSD têm apontado um apoio dos sociais-democratas à presidente do CDS como a melhor hipótese para contestar a presidência de Medina. 

Os números de Santana não seriam tão atrativos quanto os de Cristas – algo visto com naturalidade por setores social-democratas, tendo em conta o crescente distanciamento do provedor da Santa Casa em relação à questão – e o PSD começa a olhar para Cristas como uma solução real.

«Se houver coligação, alguém tem de sair, mas uma coligação com Cristas é melhor que uma derrota em Lisboa e Porto…», aponta um membro do Conselho Nacional do PSD.

Fonte do partido revelou ao SOL que depois de a coordenação autárquica afirmar que o PSD teria candidaturas fortes e próprias, «só uma negociação mais abrangente, com outras câmaras incluídas, seria plausível». A direção social-democrata não terá apreciado ver Cristas apresentar-se como candidata a Lisboa sem qualquer conversa ou aviso além do feito no dia do anúncio, em Oliveira do Bairro. Tal terá prejudicado a confiança estabelecida entre os dois partidos que governaram juntos o país entre 2011 e 2015. Resta saber até quando.

As três questões centrais passam pela possibilidade de uma coligação entre PSD e CDS para Lisboa, que decorreria de negociações entre os dois partidos para outras candidaturas conjuntas em outros  municípios de destaque, por saber até que ponto Pedro Santana Lopes pondera preservar-se para um futuro político mais nacional que local (como Lisboa) e por saber se os partidos à esquerda reagiriam à aliança de direita com uma nova ‘gerigonça’ – mas de foro municipal. 

Fonte do Largo do Caldas assegurou ao SOL que «Assunção Cristas não ficará à porta». «O PSD já disse várias coisas diferentes. Quando se entenderem para algo oficial, logo veremos», rematou.