O tema do painel de debate na WebSummit era o “casamento infernal” entre empreendedores e governos, mas a moderadora a certa altura sacou de uma pergunta que Durão Barroso “já devia estar à espera”: as muitas críticas à ida do ex-presidente da Comissão Europeia para o Goldman Sachs.
Ao contrário do que aconteceu na sessão de abertura da conferência esta segunda-feira, desta feita não houve vaias na plateia e Durão Barroso respondeu em poucos minutos: “O comité de Ética da UE concluiu recentemente que as regras não foram violadas, mas penso que o facto de a questão ter sido suscitada mostra desde logo uma atitude negativa em relação à finança internacional, ao novo mundo financeiro e global. É um erro”, disse Barroso, defendo maior inovação também neste sector. Para Barroso, o problema é também cultural, assinalou. “Há também uma atitude negativa na Europa em relação aos Estados Unidos. Temos diferenças mas precisamos de um mercado conjunto”, disse, criticando ainda a oposição ao acordo de comércio livre recentemente assinado entre a União Europeia e o Canadá.
E o tal casamento infernal?
“O melhor que os governos têm a fazer é sair do caminho?”, perguntou a moderadora. Daniel Saks, da AppDirect e Durão Barroso, os dois oradores do painel, defenderam que no, campo da inovação tecnológica, é vital avançar-se com a criação do Mercado Digital Único, conceito que parece ser uma das grandes bandeiras políticas da WebSummit e que tem sido a mensagem central dos participantes institucionais na conferência, do vice-presidente da Comissão Europeia Andrus Ansip a António Costa.
A ideia é pôr fim às barreiras na utilização de serviços digitais, por exemplo compras online, com uma regulação comum das taxas aplicadas em cada país, das regras de circulação de conteúdos e dos direitos de autor.
Para já, o lado mais visível desse trabalho a nível europeu foi a revisão, este ano, das taxas de roaming, estando prevista a sua eliminação total para junho do próximo ano. “As empresas de telecomunicações são muito próximas dos governos e tem havido muitas resistências”, disse Durão Barroso, defendendo o fim das taxas de roaming como uma das ajudas que os países podem dar à inovação tecnológica. O ex-presidente da Comissão Europeia defendeu ainda subsídios estatais mas dirigidos a áreas específicas, como ajudar as empresas a desenvolver infra-estruturas que permitam maiores larguras de banda.
No que toca a infra-estruturas, Paddy Cosgrave parece estar encantado com o trabalho da Portugal Telecom e Cisco no Meo Arena, que fez de questão de elogiar mais uma vez no arranque da conferência esta manhã. “O wifi esta a funcionar, isto é incrível”, referindo-se ao facto de haver rede para mais de 50 mil participantes. “Quer seja Apple ou Google a tratar destas questões, em grandes eventos há sempre limitações técnicas no wifi e tê-lo a funcionar com tantas pessoas é um desafio incrível que leva a tecnologia ao limite”.