Nem da oposição, nem da comunicação social. Numa semana em que o crescimento económico fez o governo minoritário do PS saltar de alegria, havia uma pedra que permanecia no sapato do primeiro-ministro, António Costa – uma pedra de nome Caixa Geral de Depósitos.
Não é, no entanto, uma pedra vinda da oposição à direita, das tensões internas da solução de governo com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, ou sequer oriunda de investigações jornalísticas. A denúncia nasceu do espaço de comentário televisivo de Luís Marques Mendes, um dos senadores do Partido Social Democrata, distante até da atual direção do partido que liderou entre 2005 e 2007.
Foi Marques Mendes que fez explodir a bomba no final de outubro. Um decreto-lei, promulgado por Marcelo Rebelo de Sousa no verão, visava criar um regime de exceção que isentava a nova administração da Caixa do estatuto de gestores públicos, ficando estes desobrigados de apresentar as respetivas declarações de rendimentos e património ao Tribunal Constitucional. “Ou é um lapso – admito que seja – que tem de ser corrigido rapidamente, ou foi de propósito e é muito mais grave”, advertia o ex-líder do PSD.
A alegada falta de transparência do legislador (o governo) levou a oposição a pedir explicações e a afirmar que administradores poderiam escapar incólumes a eventuais incompatibilidades.
Uma semana depois, Marques Mendes subia o tom e acusava o governo de se ter colocado “de cócoras” e que “António Costa concordou e sancionou” tudo o que foi feito. PSD, CDS, Bloco e PCP criticavam unanimemente o executivo socialista, chegando ao ponto de Jerónimo de Sousa não negar que apoiaria uma proposta social-democrata sobre o escrutínio ao banco público.
Em novembro são os administradores que levam um puxão de orelhas e Mendes diz-lhes mesmo: “Desamparem a loja.” Ou entregavam as declarações de rendimentos ou saíam. E é novamente Marques Mendes que, no domingo passado, vem informar que “António Domingues fica na Caixa”.