Está tudo a postos para que a Fosun (dona da Fidelidade e da Luz Saúde) entre finalmente no capital do BCP, onde se prepara para ficar com uma presença de até 30% da instituição financeira. Na próxima segunda-feira, os acionistas voltam a reunir-se, em assembleia-geral (AG) para aumentar o limite de votos de 20 para 30%, num investimento que pode rondar os 500 milhões de euros. Esta era uma das várias exigências que o grupo chinês impôs e foi um ponto adiado na última AG, realizada no passado dia 9. «Creio que o sentido da Assembleia-geral é positivo, quer o BCP, quer a Fosun têm interesse em celebrar este negócio. O BCP já está a navegar rumo às exigências feitas pela seguradora chinesa e tudo indica que o negócio está em condições de acontecer», garante ao SOL o gestor da XTB, António Duarte.
Pelo caminho poderá ficar a intenção da Sonangol, detentora de cerca de 18% do BCP, em reforçar a sua presença no banco liderado por Nuno Amado para mais de 20%. «Penso que o interesse da Sonangol de ir mais além dos 20% existe, mas a questão não é só o interesse, porque apesar de existir, a reestruturação da petrolífera pode ser um entrave para que tal aconteça. O pedido ao Banco Central Europeu está feito, mas como já foi notícia no passado, não há qualquer garantia de que vá aumentar a sua posição de 17,44% no banco», refere o analista.
A reestruturação da Sonangol e o facto de ainda não ter existido luz verde por parte do BCE para reforçar a sua presença na instituição financeira pode, de acordo com António Duarte, «obrigar a petrolífera a adiar essa decisão».
A verdade é que chegou a estar em cima da mesa a transferência dos 17,84% que a empresa tem no BCP para o Ministério das Finanças angolano, um negócio que acabou por não se concretizar.
O presidente do banco, Nuno Amado, tem recusado comentar o interesse do seu acionista e, durante a apresentação de resultados, disse apenas que «sobre a Sonangol é melhor perguntar à Sonangol. Informações que não são públicas, não podemos responder. Nem sequer informar se temos ou não temos essa informação».
Plano em marcha
A pouco e pouca as exigências do grupo chinês têm vindo a ser cumpridas pelo BCP. Os acionistas já aprovaram, na última assembleia-geral, o alargamento do Conselho de Administração do banco dos 20 para os 25 membros. Só foi adiado por duas semanas um dos pontos da agenda que previa aumentar o limite de votos dos 20% para os 30%. Um passo que deverá ser concretizado já esta segunda-feira.
Com a proposta em cima da mesa a administração passa a ter três vice-presidentes, mais um do que o número previsto nos estatutos atuais. Já a comissão executiva, liderada por Nuno Amado, passa a ter um limite máximo de nove membros e um mínimo de seis. Mas a Fosun quer nomear delegados para os dois órgãos de gestão.
A fusão das ações do banco era outra das reivindicações do grupo chinês e a operação acabou por ser levada a cabo no passado dia 24 de outubro. Altura em que os 75 títulos foram fundidos num só. Esta operação, denominada ‘reverse stock split’, teve como objetivo aumentar o valor unitário das ações. Mas para os investidores, além do valor da ação, pouco muda. Ou seja, o valor dos investimentos em carteira não sofrerá qualquer alteração.
No entanto, esta operação não tem sido suficiente para travar a queda dos títulos. «Não podemos fechar os olhos quanto ao valor com que a ação veio para o mercado após o reverse stock split. A ação estava a cotar 1,3425 e, face ao dia de hoje, já desvalorizou cerca de 10% ainda que consideremos estas últimas sessões positivas», lembra o gestor da XTB.
Ainda assim, as perspetivas são animadoras. «Nem que seja pelo efeito especulativo que possa existir», admite António Duarte. Mas as razões não ficam por aqui. De acordo com o analista, «o facto de haver um acionista como a Fosun atrai a atenção dos investidores, o reverse stock split também contribuiu para o sentimento e penso que, no curto prazo, podemos ver dias positivos. Quanto a um cenário de médio/longo prazo já é menos previsível e só sabendo o desfecho de tudo o que está em cima da mesa é que vamos conseguir especular», diz.
O que é certo é que para a Fosun não há dúvidas, a entrada no BCP é «um novo passo no investimento em Portugal» e permite ganhar o controlo do maior banco privado nacional. A operação vai também ajudar a empresa chinesa a acelerar a entrada no mercado europeu e africano, nomeadamente em geografias como Polónia, Moçambique, Angola e Suíça, mercados onde o banco português já tem presença.