Carlos Carreiras: “Rui Rio é o permanente candidato a candidato” [vídeo]

O PSD vai apelar ao “sentido de missão” e ao “amor” que o provedor da Santa Casa da Misericórdia tem por Lisboa

Carlos Carreiras: “Rui Rio é o permanente candidato a candidato” [vídeo]

Carlos Carreiras não tem dúvidas: Pedro Santana Lopes é o candidato ideal do PSD à Câmara de Lisboa. No Largo Trindade Coelho, sede da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, porém, ainda não houve fumo branco. Talvez seja preciso esperar até março para saber se o ex-primeiro-ministro se candidata efetivamente ao cargo, mas os planos autárquicos do PSD parecem estar a todo o gás: cerca de 80% das candidaturas já estão estabilizadas.

E se Carreiras não poupou elogios a Santana Lopes, também não se fez rogado nas críticas a Rui Rio. Acusou o ex-autarca do Porto de ser “permanentemente um candidato a candidato” e fala mesmo numa “falta de solidariedade”. Deixou ainda uma garantia: Pedro Passos Coelho voltará a ser primeiro-ministro, só falta saber quando.

Vai recandidatar-se à Câmara de Cascais?

Eu sou dos que defendem que quem é presidente tem vantagens em ser mais tempo presidente do que ser candidato. À partida, anunciarei no momento que for mais oportuno ser candidato, tendo já recebido quer por parte do PSD quer do CDS a indicação de que, nas estruturas próprias, já votaram não só reeditar a coligação em Cascais como reeditá-la sob a minha liderança. Neste momento, confesso, estou muito mais focado em fazer acontecer aquilo que ainda tem de acontecer.

É o coordenador autárquico do PSD. Há uns meses tinha dito que os candidatos seriam anunciados entre outubro e março. Ainda estamos no início desse prazo, mas até agora ainda não houve nenhum anúncio. Vamos ter de esperar até ao final de março?

Neste momento temos cerca de 80% das candidaturas já estabilizadas. O anúncio é uma questão de ordem estatutária, porque têm de se cumprir alguns formalismos, e de ordem tática. Pode acontecer que em alguns concelhos possa ser aconselhável fazer-se mais cedo – estamos a falar do princípio do primeiro trimestre de 2017. Haverá outros em que será mais aconselhável fazê-lo já mais próximo de 31 de março. Agora, também registámos que o PS se aproximou dos nossos timings e das nossas estratégias. Estavam para apresentar os candidatos em dezembro e há coisa de uma semana vieram anunciar que só iram fazê-lo em março. Qualquer português está cansado de campanhas eleitorais, portanto seria até desaconselhável para a própria estratégia de qualquer candidatura estar um ano em campanha. Acho que o mês de março é um mês mais do que razoável para ter o processo todo despachado.

Mas isso não é prejudicial para o candidato? Não fica com pouco tempo [para a campanha]?

Para um candidato que tem notoriedade local mais do que suficiente, que tem provas dadas localmente e que tem um reconhecimento generalizado do bom trabalho que fez ou que se espera que venha a fazer, seria suicídio estar um ano a fazer campanha ou ser apresentado a um ano de distância.

Estava a dizer que 80% dos candidatos já estão estabilizados. Pode avançar algum nome?

Do ponto de vista tático, não temos interesse em antecipar nomes que não seja no momento adequado.

Isso também envolve a Câmara de Lisboa?

Isso envolve todas as 308 câmaras, mas temos consciência de qual é o impacto de Lisboa, que é capital do país, o maior município nacional, e aí a nossa lógica é diferente. O PSD tem um ex-presidente de câmara com provas dadas, com reconhecimento do trabalho feito, mesmo que algum desse reconhecimento tenha vindo a posteriori. Lembremo-nos do túnel do Marquês, que foi tão criticado na época e hoje é unânime considerar que foi uma excelente decisão. Um ex-presidente de câmara que, dos últimos políticos que passaram por Lisboa, foi aquele que apresentou uma visão estratégica para a cidade. Quem tem isto deve esgotar até ao limite a possibilidade de ser candidato novamente a presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Está a falar de Pedro Santana Lopes?

Sim. Aguardaremos, nos timings que ainda faltam acontecer, que possamos ter esse convencimento de que Pedro Santana Lopes possa ser, de facto, o candidato a Lisboa.

Então Santana Lopes ainda é uma hipótese para Lisboa?

É a hipótese mais desejada pelo PSD.

Tem algum feedback por parte do provedor da Santa Casa?

Temos de fazer valer o nosso apelo para que o sentido de missão – que é reconhecido em Santana Lopes – possa ter ganho de causa e ele responder positivamente a este desafio de missão ou de uma reedição de missão que ficou, de alguma forma, inacabada da última vez que foi presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Se em finais de março Santana Lopes decidir não se candidatar, como fica o PSD nessa altura?

Teremos sempre um bom candidato para apresentar, mas estar a antecipar cenários B é a própria anulação do cenário que desejamos.

Então o PSD não tem planos B?

Neste momento, acreditamos que vamos ser capazes de fazer esse apelo ao sentido de missão e até ao sentido de paixão e amor por Lisboa que sabemos que Pedro Santana Lopes tem. O plano B até K é que seja Santana Lopes o candidato a Lisboa. Só o facto de antecipar a possibilidade de ele não avançar seria, de alguma forma, anular aquilo que nós queremos que aconteça. Consideramos que é melhor para Lisboa.

José Eduardo Martins não descartou a possibilidade de haver uma coligação com o CDS para a Câmara de Lisboa.

Do ponto de vista da responsabilidade efetiva, não cabe ao coordenador do programa para Lisboa, nascido no âmbito de uma decisão da concelhia de Lisboa, estipular quais são as eventualidades de candidaturas, de não candidaturas ou do próprio programa – esse será o próprio candidato a aceitar, e a acrescentar as suas próprias ideias.

Se o provedor da Santa Casa não avançar, o PSD irá avançar com um candidato próprio ou coloca-se a hipótese de uma coligação com o CDS?

Para nós continua a colocar-se a hipótese de Pedro Santana Lopes responder positivamente ao apelo que lhe estamos a fazer, sabendo do espírito de missão dele e da visão, do amor e da paixão por Lisboa.

Portanto, uma coligação com Assunção Cristas seria sempre o tal plano B que o PSD ainda não está a considerar…

Que não queremos sequer considerar porque temos como objetivo principal fazer esse apelo e que seja aceite por Santana Lopes.

No caso de haver uma candidatura de Isaltino Morais à Câmara de Oeiras, isso coloca alguma pressão no candidato do PSD à mesma câmara?

Assumindo que Isaltino Morais é candidato, que ainda não foi anunciado.

Mas há essa possibilidade…

Há possibilidade de qualquer cidadão eleitor num concelho poder ser candidato. O que nós fizemos, e continuamos a fazer – e foi dada sempre essa orientação às estruturas partidárias –, é estarmos focados na questão programática, qual é a estratégia que nós queremos para o nosso concelho. Nestas coisas há duas perguntas a fazer. A primeira é irrelevante porque todos respondem da mesma maneira: todos querem ganhar. O grande problema é a segunda pergunta

Qual é a segunda pergunta?

Ganhar para quê? Se não se tem um projeto, se não se tem uma estratégia, o dia a seguir à vitória é um problema porque não se sabe o que fazer com ela. As nossas estruturas têm estado a aprofundar essa visão e essa estratégia. Pensamos que é a forma séria de se fazer política nacional e também política autárquica. A partir daí, o que também colocámos como orientação foi que procurassem convergências no âmbito da sua comunidade municipal para termos maior força na aplicação dessa mesma visão e dessa mesma estratégia. A partir daí, também demos algumas sugestões. Não vamos cometer os erros do passado. O PSD foi o maior fabricante de candidaturas independentes. Se formos a analisar a esmagadora maioria delas, não é que houvesse uma visão estratégica diferente das duas posições que estavam na altura em cima da mesa. Foram questões de ordem pessoal. Temos alguns municípios em que os atuais presidentes de câmara são independentes, mas que toda a gente os reconhece como sendo sociais-democratas, até porque militaram no PSD durante muitos anos.

Que é o caso da Câmara de Oeiras…

Neste enquadramento, a Câmara de Oeiras também está lá situada. Em Oeiras, quem garante a própria maioria do executivo da câmara – que é liderada por Paulo Vistas – têm sido os próprios vereadores do PSD. Tem havido uma aproximação muito grande em termos da tal estratégia para o concelho entre o presidente de câmara independente e os vereadores do PSD.

Então há uma maior possibilidade de o PSD apoiar Paulo Vistas do que Isaltino Morais?

Eu diria que não há nenhuma probabilidade de apoiar Isaltino Morais porque não se enquadra naquilo que nós temos estado a definir. No caso de Paulo Vistas, se se coloca como uma possibilidade ou uma probabilidade, não escondo que pode haver essa possibilidade.

No caso da Câmara do Porto, já veio dizer que apoiar Rui Moreira está fora de questão.

No Porto há um candidato que já está anunciado e é um candidato do PS, Rui Moreira. Senão, teríamos de acreditar numa coisa contrária, que era que o PS tinha desistido do Porto. Do nosso lado não faz qualquer sentido termos uma coligação com os socialistas, seja no Porto seja em qualquer outro lado. Na Câmara do Porto, o PSD aponta também para ter uma candidatura forte e uma candidatura própria.

Já pensaram em alguém?

Se dissesse que não, estaria a mentir. Que vamos divulgar em quem pensámos, não iremos fazê-lo. Acho que as coisas estão bem encaminhadas, há várias possibilidades.

Rui Rio é uma dessas possibilidades?

Pelo que me tenho apercebido, Rui Rio é permanentemente um candidato a candidato, mas isso depende muito da vontade que ele possa ter. Ultimamente não o vi manifestar vontade de ser candidato a candidato a presidente da Câmara do Porto. Mas Rui Rio tem um currículo e uma experiência mais do que suficiente para ser candidato a qualquer câmara deste país menos uma – agora de interesse pessoal – que é à de Cascais [risos].

Numa entrevista recente, o ex-autarca do Porto falou na possibilidade de se candidatar à liderança do partido e não a uma câmara…

É o que estou a dizer. Sabemos que ele é permanentemente um candidato a candidato.

Como olha para esta possível liderança do PSD? Acha que é uma hipótese que se deve colocar nesta altura?

É uma hipótese normal quando estivermos em eleições internas para presidente do partido. Estatutariamente, elas estão marcadas para abril de 2018, ainda estamos muito longe. As próximas eleições serão as autárquicas; portanto, quem quer ser candidato, neste momento deve apresentar a sua opção de ser candidato a candidato autárquico. Tudo o resto é barulho, o que também não ajuda nada o próprio partido. Considero que é uma falta de solidariedade, até interna, estar a colocar barulho em cima da mesa de coisas que sabemos não vão estar em cima da mesa.

Por que razão acha que Rui Rio fez estas declarações agora?

O único que pode responder a isso é o próprio. O que vejo é que há uma vontade permanente, em relação a várias eleições, de se apresentar como candidato a candidato, nunca chegando a ser candidato.

Também se fala na hipótese de Santana Lopes se candidatar à liderança do PSD.

Isso nunca ouvi nem li.

Pensa então que Santana Lopes não está a ponderar candidatar-se à liderança do partido?

Não, porque não faz sentido e o próprio sabe que não faz sentido.

Porque não faz sentido?

Porque as eleições são só em abril de 2018. A previsibilidade nestas matérias é nenhuma. Estando a um ano e meio das eleições, estando o partido focado no próximo desafio eleitoral – que são as autárquicas –, sendo Santana Lopes uma pessoa responsável, cujo contributo para o bem do PSD é inquestionável, não se espera que, com esta postura, esteja a apresentar candidaturas para órgãos nacionais que não têm eleições marcadas. Aquilo que posso interpretar das suas perguntas é a liderança de Pedro Passos Coelho, e essa está inquestionável.

Acha que Passos Coelho pode voltar a ser primeiro-ministro?

Há uma frase que ficou célebre de um outro primeiro-ministro, que na altura era líder da oposição, que disse: “Eu sei que vou ser primeiro-ministro, só não sei quando.” A questão não é se poderá. Pedro Passos Coelho será primeiro-ministro. Só não sabemos é quando, mas que vai ser é a minha convicção. Eu sou dos que dentro do partido sempre defenderam, desde a primeira hora, que as legislaturas são para cumprir. Se o resultado que foi agora entendido deve ser uma maioria do PS com os partidos de extrema-esquerda, então que se leve até ao fim. Primeiro, porque precisamos de estabilidade, e, depois, para esta solução ficar evidente, deve ir até ao fim dos quatro anos.

Como assim?

A pior coisa que pode acontecer é não identificarmos bem as responsabilidades. O atual governo tem de ter a oportunidade, já que foi essa a sua opção, de ir até ao final da legislatura para demonstrar se o trabalho que está a fazer é positivo ou negativo.

Se o PSD perder as autárquicas, a liderança de Passos Coelho não fica em causa?

Aí, quem tem um discurso que não é coerente é o PS. Há três anos dissemos que as eleições autárquicas são eleições locais. O PS, porque sabia que o PSD estava no governo a ter de tomar um conjunto de medidas difíceis, é que quis dar-lhe uma dimensão nacional.

Mas que acabam sempre por ter peso no partido…

O responsável pelos resultados das autárquicas a nível nacional sou eu. Sou o coordenador nacional autárquico, partiu de mim a apresentação da estratégia que o partido devia ter na abordagem a estas eleições, portanto serei sempre um principal responsável. Há uns segundos, que são os próprios dirigentes distritais no concelhos dos seus distritos e, depois, os responsáveis são os próprios dirigentes locais e os candidatos.

O líder do partido não entra nessa equação?

Não. Se fosse por isso, era a mesma coisa que dizer que, afinal, o PSD não tem 106 câmaras mas 178, porque, nas últimas eleições a que Passos Coelho concorreu, ganhou em 178 municípios. Isso é tão anormal quanto dizer que as eleições locais colocam em questão a liderança nacional.

Nas últimas semanas tem havido algumas questões com o governo relativamente à Linha de Cascais, mas os problemas com a linha não são de agora…

A nossa relação com o governo depende do setor e dos membros do governo. Temos boas relações com alguns ministros e com algumas secretarias de Estado. Só não temos mesmo é com o ministro das Infraestruturas. Nós tínhamos com o anterior governo um acordo que tinha vindo a ser estabelecido com as três câmaras – Cascais, Oeiras e Lisboa – no sentido de todos concordarem que a linha está numa situação muito débil e exige financiamento avultado. Estamos a falar de 259 milhões de euros para a solução que exige menos investimento, e dividia-se em duas componentes: 135 milhões de euros para a infraestrutura e 124 milhões para o material circulante – as carruagens. Os 135 milhões seriam financiados pelo Orçamento do Estado e fundos europeus, e a infraestrutura ficaria sempre do Estado, na posse da REFER e, agora, IP. A parte do material circulante seria por concessão a privados, que ficariam com a exploração da linha, com o objetivo de que o preço teria de ser igual ou inferior ao atual. Nunca poderia ser superior.

Com a entrada do atual governo isso não se concretizou?

Não. Nós culpamos sobretudo o PCP e o BE, que têm o atual governo refém de componente ideológica de não privatizar a linha. Isso, obviamente, levou a que o investimento dos 124 milhões não existisse e o Estado não quis assumir por completo os 259 milhões. Além de não assumir, ainda fez outra coisa: pegou nos 135 milhões que estavam para a linha e afetou-os a outras duas situações, os transportes coletivos do Porto e a Carris. Aqui, a grande questão é a injustiça, como é que dois partidos ultraminoritários condicionam a vida de milhões de pessoas. Eu não tenho nenhuma restrição ideológica, tanto me faz que a linha fique privada, como pública, como com uma concessão. A minha preocupação é a forma como as pessoas se deslocam entre Lisboa-Cascais e Cascais-Lisboa, a qualidade do serviço e o menor custo possível. E por parte deste ministro não tem havido sequer abertura para conversar.

Não consegue sequer falar com Pedro Marques?

Não. Percebo agora que terão tido reuniões com Lisboa, mas com Cascais e, tanto quanto sei, com Oeiras nunca mais tiveram. Neste momento já desisti de colocar este assunto ao ministro porque já se percebeu a sua total incapacidade de lidar com o assunto. Isto é um assunto que tem de estar nas mãos do primeiro-ministro, ele é que tem de resolver a situação.

Conseguiu falar com António Costa?

Não. Parece que o melhor veículo para lá chegar é o próprio presidente da Câmara de Lisboa, que também tem o problema. Fernando Medina ficou de ver com o primeiro-ministro como se ultrapassa esta situação. Ele está a fazer uma política de contenção de carros em Lisboa. Não a consegue fazer se não solucionar este problema.

Chegou mesmo a pedir a demissão de Pedro Marques…

Uma pessoa exerce uma função para a qual manifestamente demonstra não ter capacidade, competência nem vontade, então é ele próprio que se está a demitir da sua função.

Tem esperança de que António Costa possa resolver os problemas da Linha de Cascais?

De uma coisa tenho a certeza: ele conhece melhor do que ninguém o efeito nefasto de não resolver o problema, porque foi presidente da Câmara de Lisboa. Ele está mais do que sensível porque já passou por esse problema.