Herbert Walter, banqueiro alemão com percurso no Deutsche Bank e Ángel Corcóstegui, que reestruturou o Banco Central Hispanoamericano e negociou a compra do Totta pelo Santander, estão «assumidamente saturados», revelou fonte próxima do processo. Os dois banqueiros, de reconhecido prestígio na praça, serviram para credibilizar a nova administração e facilitar as negociações do plano estratégico de António Domingues com as instituições europeias. No caso do espanhol, as boas relações com o Banco de Portugal também eram conhecidas e potenciaram o convite. Corcóstegui estava hoje mais longe da banca espanhola e mais ligado a fundos de capital de risco.
O certo é que os dois banqueiros estrangeiros se cansaram da polémica em torno da a administração a que pertencem e ponderam abandonar o projeto. Fonte de Bruxelas que pediu anonimato assegurou ao SOL que essa saída «não colocaria a recapitalização em causa». O SOL sabe que os impasses e eventuais saídas da administração geravam preocupações mais intensas no alemão e no basco, do que nos portugueses que, liderados por António Domingues, devem permanecer na gestão do banco público português.
Ao que o SOL também apurou, a questão das declarações de rendimentos não seria tão premente para o próprio Domingues, na medida em que os relatórios e contas do BPI já eram bastante reveladores das suas posses. Herbert Walter e Ángel Corcóstegui, por outro lado, estariam bem mais reticentes a esse tipo de exposição pública. Fonte ligada ao processo da Caixa afirma ao SOL: «Mesmo que não tivessem de declarar nada, o tipo de alarido a que a administração tem sido sujeita não agrada de todo» aos dois profissionais, e por isso estão a ponderar sair.
Esta semana não foi execpção e houve nova polémica com António Domingues. A Comissão Europeia (CE) respondeu a um pedido de informação por escrito do eurodeputado do PSD José Manuel Fernandes. A CE esclareceu que o Governo português considerou «necessário que o então futuro conselho de administração da CGD (entretanto nomeado) participasse em algumas das reuniões e fosse informado sobre requisitos em matéria de auxílios estatais». A presidente da supervisão do Banco Central Europeu também informou o eurodeputado que se reuniu com António Domingues em maio para discutir a recapitalização da Caixa. Domingues só viria a renunciar ao mandato no BPI a 30 de Junho, logo, a acumulação indireta de funções em maio, poderá ter levantado um «conflito de interesses», apontou o PSD ao Executivo liderado por António Costa.
O líder da bancada do PSD pediu mesmo um «esclarecimento urgente» por considerar que «as instituições da União Europeia estão a dar mais informações do que o Governo e a administração» e que pode haver o risco de Domingues ter «representado o Estado quando ainda era administrador de um banco privado».
Em entrevista à Lusa esta semana, António Costa veio acusar o PSD e inventar polémicas com um objetivo: Impedir a capitalização da CGD.
O chefe do Governo defendeu também a presença de António Domingues em reuniões com a CE e o Banco Central Europeu já que, na qualidade de futuro responsável máximo pelo banco público, estava obrigado a saber, de antemão, se Bruxelas iria dar ‘luz verde’ ao plano de recapitalização da Caixa.
O primeiro-ministro lembrou, no meio da polémica que envolve a Caixa há vários meses, valorizar a decisão do Governo em, pela primeira vez, optar por «despolitizar e despartidarizar de uma vez por todas a administração e fazer da Caixa aquilo que deve ser: Uma empresa gerida profissionalmente».
Por isso, para Costa, é «absolutamente irresponsável a postura do PSD que, enquanto Governo, procurou esconder dos portugueses a situação em que se encontrava o sistema financeiro» nacional.
Segundo o governante, «por responsabilidade» do anterior Governo (PSD/CDS) destruiu-se «um banco como o Banco Espírito Santo», levando ainda «à destruição de um segundo banco, o Banif». Para Costa, se não tivesse havido mudança de Governo seguir-se-ia a Caixa ou, pelo menos, esta teria sido empurrada para «uma privatização». O PSD reagiu rápido às palavras de Costa. A deputada e anterior ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque atirou: «Fosse António Costa primeiro-ministro em 2014 e teriam sido entregues milhares de milhões de euros dos contribuintes a Ricardo Salgado para evitar o colapso do BES».