Fidel Castro morreu. No parlamento entraram dois votos de pesar. Nas votações, o CDS votou sempre contra. O PS absteve-se na do PCP e votou favoravelmente a sua. O PCP_e o BE votaram favoravelmente ambas. PSD absteve-se sempre.
O falecimento de Fidel Castro continua a suscitar divisões na praça pública e no campo político. Ontem, na Assembleia da República, os grupos parlamentares do Partido Socialista e do Partido Comunista Português apresentaram dois votos de pesar distintos pela morte do defunto chefe de Estado cubano.
O CDS-PP votou contra ambos e a bancada do PSD absteve-se em ambos, à exceção de cinco deputados sociais-democratas que deram o não aos dois votos de pesar.
Um outro grupo de parlamentares do PSD assinou uma declaração de voto conjunta, mantendo a abstenção da bancada, em que se destacavam os nomes de António Leitão Amaro, ex-secretário de Estado, Miguel Morgado, vice-presidente da bancada parlamentar, Duarte Marques, coordenador do partido para os Assuntos Europeus, e Simão Ribeiro, presidente da Juventude Social Democrata.
Ao i, Simão Ribeiro afirmou que “nunca conseguiria votar favoravelmente um voto de pesar como aqueles que foram propostos à Assembleia da República, em que entre outras coisas, tentam branquear quem realmente foi Fidel, chegando mesmo a afirmar que Castro foi um construtor de paz e justiça social”. O deputado não nega, no entanto, “a relevância de uma figura incontornável” e afirma que seria incapaz de votar contra um pesar pela morte de alguém.
O texto da declaração de voto não negava “a presença do ex-líder cubano na história do séc. xx nem a necessidade de aprofundamento das relações entre Portugal e Cuba”, mas recusava-se a “pactuar com o branqueamento da faceta de ditador de Fidel Castro”, não podendo “esquecer as constantes violações dos direitos humanos, a inexistência de liberdade de imprensa, as perseguições aos seus opositores, a existência de presos políticos em Cuba, o desaparecimento e assassínio de diversos ativistas pela democracia e liberdade em Cuba, bem como os fuzilamentos de cubanos que tentaram fugir para os Estados Unidos”.
O vice-presidente da bancada do PSD Sérgio Azevedo anunciou ontem em plenário que o grupo parlamentar apresentará também uma declaração de voto sobre a morte de Fidel Castro. Ao i, Azevedo afirmou: “Todas as mortes são de lamentar e o PSD nunca se opôs no parlamento a que os vários partidos prestassem homenagem póstuma a quem os inspira na sua doutrina. Foi o caso do PCP e é, pelos vistos, o caso do PS. O PSD é um partido humanista e contribuiu sempre para a estabilidade das relações diplomáticas com Cuba, mas isso não impede que estejamos nos antípodas daquilo que Fidel Castro representou e que não condenemos com veemência as atrocidades do seu regime que cortaram a liberdade e a dignidade humana em todas as suas dimensões.”
Sérgio Sousa Pinto, deputado do Partido Socialista e presidente da comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros, abandonou o plenário no momento em que os textos de pesar foram a votos. Sousa Pinto justificou a posição ao semanário “Expresso”: “Devo ao 25 de Abril ter crescido em liberdade e democracia. Não me vou prostrar em homenagem a um ditador que negou ao seu povo o que eu prezo acima de tudo”, escrevendo mais tarde na sua página uma citação de Mário Soares sobre Fidel Castro: “A História não o absolverá.”
O voto de pesar do Partido Socialista recordava Fidel como “determinante no aprofundamento das relações diplomáticas e de proximidade entre Portugal e Cuba após a Revolução do 25 de Abril”.