O governo italiano prepara-se para injetar dois mil milhões de euros de dinheiro público no banco Monte dei Paschi di Siena para responder às dificuldades da instituição financeira em captar investimento privado, depois da incerteza política que surgiu no país com a demissão do primeiro-ministro na sequência do fracasso do referendo.
Na prática, este aumento de capital levaria à nacionalização do banco italiano, com o Estado a ficar com 40% do capital, em vez dos atuais 4%. O certo é que esta poderá ser a única solução em cima da mesa, uma vez que a incerteza política pode dificultar a captação de investidores. Aliás, foi o que aconteceu com o interesse do fundo soberano do Qatar que, até agora, praticamente desapareceu.
Ainda assim, o Monte dei Paschi já conseguiu angariar cerca de mil milhões de euros numa operação de troca de dívida por ações e restarão dois mil milhões de euros que a entidade teria de captar junto de investidores privados. No entanto, será a injeção de capital público a dar o impulso necessário à operação e a criar a estabilidade necessária para atrair os fundos privados e resolver os problemas mais urgentes do banco que, em julho, chumbou nos testes de stresse do Banco Central Europeu.
Banca italiana sob stresse A banca italiana poderá ser a primeira vítima da vitória do não no referendo italiano. O sistema financeiro do país já se encontrava numa situação de fragilidade e a instabilidade poderá ganhar agora novos contornos com o banco Monte dei Paschi no centro do problema.
Ao mesmo tempo, as instituições financeiras ficam sob pressão para implementar planos de reestruturação urgentes. O governador do Banco da Áustria e também membro do conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE), Ewald Nowotny, já veio admitir que poderá ser necessário recapitalizar alguns bancos italianos através de capitais públicos – uma opção que, no entender do banqueiro, “não pode ser excluída”.
Também na semana passada, o “Financial Times” revelava que haveria mais sete bancos em risco de falir se o resultado do referendo fosse desfavorável, o que veio a acontecer. E neste cenário estão incluídas algumas instituições financeiras de média dimensão. É o caso do Popolare di Vicenza e do Veneto Banca, assim como alguns bancos mais pequenos que foram intervencionados em 2015, como o Banca Etruria e o CariChieti.
O certo é que todos estes bancos têm um problema em comum: o crédito malparado. De acordo com os últimos dados, a banca italiana tem em mãos 360 mil milhões de euros em crédito problemático, com apenas 225 mil milhões em capital para enfrentar eventuais perdas. S. P. P.