As defesas rebeldes de Alepo começaram a fracassar há duas semanas e ontem pareciam estar a chegar ao limite. Depois de uma noite de intensos bombardeamentos, as forças do regime sírio avançaram nas primeiras horas da manhã sobre os últimos bairros da oposição, conquistando-os um a seguir a outro, ao ponto de, ao início da noite de ontem, restarem apenas dois fora do domínio do regime. O exército sírio dizia ontem que 98% dos bairros rebeldes já estavam nas suas mãos. Já o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, em contacto com uma vasta rede de ativistas no terreno, anunciava o fim da batalha de Alepo, que durante quatro anos esteve dividida ao meio e foi o centro do conflito que já matou cerca de 400 mil pessoas. “A batalha por Alepo chegou ao fim”, anunciou ontem o diretor do Observatório, Rami Abdel Rahman. “É apenas uma questão de pouco tempo, nem mais, nem menos. É o colapso total.”
É difícil exagerar a importância da conquista de Alepo. Não se trata apenas da maior cidade síria do pré-guerra, o seu antigo centro comercial e industrial, mas também do último domínio urbano de relevo nas mãos da oposição. Sem ela, as fações dispersas que combatem Assad – algumas delas radicais, como a poderosa Fatah al-Shamm, o satélite sírio da Al-Qaeda; outras menos – perdem motivos para reivindicar um lugar na mesa da discussão de uma resolução política para a guerra dos últimos cinco anos. Estima-se que restem ainda algumas centenas de combatentes nos últimos bairros rebeldes, mesmo que, ao longo do fim de semana, cerca de mil se tenham rendido ao regime a troco de serem deslocados para os territórios da oposição em Idlib, a leste. Com eles estão vários milhares de civis, os que decidiram não acompanhar as cerca de cem mil pessoas que o governo russo diz já terem passado para os bairros governamentais, muitas nos últimos dias – 20 mil só no sábado, segundo o governo russo. “Ou se rendem ou morrem”, lançava ontem o general sírio Zaid al-Saleh, citado pela BBC.
Washington e Moscovo discutiram no fim de semana um acordo que permitisse um cessar-fogo e a saída de residentes e grupos armados para outras partes do país, como o presidente Bashar al-Assad já negociou noutras ocasiões. Apesar das centenas de rendições que o governo russo anunciou no sábado, os dois países não chegaram a acordo e os ataques não cessaram. As Nações Unidas dizem que há grupos rebeldes que tentam evitar que a população escape, disparando por vezes sobre quem troca de lado, mas dizem também que há centenas de homens desaparecidos entre os que, nas últimas semanas, chegaram a bairros leais a Damasco. A derrota parece estar por dias, mas vários grupos rebeldes dizem-se dispostos a resistir até ao fim. Como dizia ontem Riyad Hijab, o coordenador do órgão máximo da oposição política síria no exílio, “se Assad e os seus aliados pensam que o avanço militar em alguns bairros de Alepo nos fará entrar em concessões, digo-vos que isso não acontecerá”.