As alunos das escolas privadas voltaram a conseguir, este ano, melhores resultados nos exames nacionais do básico e secundário do que os da escola pública. É assim há vários anos.
A tendência resulta de vários fatores. Desde logo das condições socioeconómicas das famílias que optam pelas escolas privadas. Por exemplo, para inscrever um aluno do 10.º ano no Colégio Nossa Senhora do Rosário – que pela quinta vez volta a ocupar o primeiro lugar do ranking elaborado pelo B.I. para o secundário – as propinas têm um custo de 5.100 euros anuais (510 euros mensais). Ou seja, praticamente o valor atual do salário mínimo. A este valor somam-se ainda 300 euros da matrícula, mais 100 euros de pré-inscrição, o seguro escolar, os almoços que custam 1.150 euros anuais, a farda obrigatória e mais inscrições para atividades ou disciplinas extracurriculares.
Para os alunos do 5.º ao 9.º anos de escolaridade a propina cobrada pelo Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, desce para os 4.980 euros anuais. Todas as outras despesas têm o mesmo valor.
Já o St Peter’s School, em Palmela – que ocupa a segunda posição do ranking do secundário – cobra valores mais elevados. De acordo com o preçário daquele estabelecimento de ensino bilingue (português e inglês), este ano letivo a propina ascende aos 14.900 euros anuais (dez meses de aulas) para os alunos do 9.º ano. Sobe para os 15.790 euros anuais para os alunos do secundário, que podem ser pagos através de prestações. A este valor somam-se ainda três mil euros para a inscrição dos alunos tanto no 9.º ano para o secundário e um depósito de mil euros, que será devolvido no final de cada ano letivo.
A propina paga pelos alunos do St Peter’s inclui a farda, o material escolar, os manuais escolares, os almoços, e aulas de apoio caso os alunos tenham dificuldades nas notas. Mas, como se trata de uma escola bilingue, um dos pré-requisitos do St Peter’s para selecionar alunos passa pelo nível de inglês. Caso os estudantes não tenham um nível adequado de inglês, terão de frequentar um programa especial daquela língua, que tem um custo de 700 euros por semestre.
No geral, são estes os valores praticados pelos colégios que fazem parte do top dez do ranking realizado pelo B.I. para o secundário. Mas além das condições socioeconómicas há outros fatores que fazem com que as privadas consigam melhores resultados. É o caso da seleção de alunos, seja através de provas de aptidão, dos valores cobrados em mensalidades ou através do número de vagas. Também o nível de exigência da aprendizagem nos colégios varia de escola para escola.
Tudo isto acaba por desvirtuar os resultados dos rankings, que o Ministério da Educação recusa realizar. Custos e restrições que não existem na escola pública, onde não há seleção de alunos – muitos com origem em famílias com dificuldades financeiras –, e que mesmo assim, em relação a 2015, desceu apenas sete posições na tabela das médias mais altas dos exames.
Num universo de 812 agrupamentos de escolas há 233 escolas do secundário, por exemplo, onde 25% dos alunos recebem apoio social escolar.
Este ano, a primeira escola pública a ocupar um lugar no ranking do secundário está na 34.ª posição. Em 2015, a primeira escola pública estava no 27º lugar da mesma tabela. Mas esta descida na tabela de classificação não traduz piores resultados. É que a melhor pública classificada entre as secundárias – a Escola Básica e Secundária Filipa de Lencastre, em Lisboa – tem uma média de 12,70 valores (numa escala de 0 a 20) em 553 exames realizados pelos 176 alunos do 12.º ano. Valores que são semelhantes aos registados no ano passado – quando a melhor escola pública classificada teve uma média de 12,93 valores em 739 provas realizadas.