Donald Trump nomeou para dirigir a agência ambiental, que combate o aquecimento global, Scott Pruitt, um homem que não acredita que haja aquecimento global; nomeou para a agência de energia, Rick Perry, um homem que pediu repetidamente a extinção dessa agência governamental; nomeou para responsável das Relações Externas, Rex W. Tillerson, um empresário de uma das maiores petrolíferas do mundo que foi condecorado por Putin; para responsável da saúde, Tom Price, alguém que combateu o plano, de Barack Obama, de tornar a saúde acessível a todos os norte-americanos ; e como responsável pelos esforços governamentais na educação pública, Betsy DeVos, uma mulher que defende acima de tudo os colégios privados. A sua última nomeação conhecida mantém a linha de coerência de lançar petróleo sobre fogo: foi apontado como embaixador em Israel, David M. Friedman. O Presidente defendeu que o objectivo dessa escolhar era clara: «conseguir uma forte relação com Israel são os fundamentos da sua missão». O recém nomeado começou logo a cumprir o desejo presidencial declarando que pretende estabelecer a embaixada dos EUA em Jerusalém, cidade sagrada de várias religiões e que é reclamada por judeus e palestinianos. «Quero fortalecer os laços inquebrantáveis entre as nossas duas nações… e desejo fazer isso numa embaixada dos EUA na eterna capital de Israel, Jerusalém», declarou Friedman, o novo embaixador conhecido pelo o seu apoio à política israelita de assentamentos ilegais, pelos acordos internacionais, de colonatos em territórios palestinianos.
Na manhã de 20 de janeiro, se não houver surpresas improváveis no Colégio Eleitoral, Donald Trump vai visitar Barack Obama à Casa Branca para beber um ameno café e os dois vão viajar juntos no mesmo carro, com Obama do lado direito e Trump à sua esquerda, em direção ao Capitólio, onde o multimilionário fará o seu juramento como novo Presidente dos EUA.
Como nota Evan Osnos na revista piauí : «Donald Trump estará a cinco meses de completar 71 anos. Será o presidente mais idoso a iniciar um primeiro mandato, sete meses mais velho que Ronald Reagan ao prestar juramento. Reagan recorreu ao humor – em 1984, prometeu não ‘ explorar politicamente a juventude e a inexperiência do meu oponente’ – que era Walter Mondale, então com 56 anos de Idade.»
Os consultores de Trump estão há semanas a organizar aquilo que denominaram o ‘Projeto Primeiro Dia’. «Trump passará horas assinando documentos – e apagando a Presidência de Obama», declarou Stephen Moore, assessor oficial, do Presidente, ligado à Fundação Heritage, citado pela piauí. «Queremos identificar talvez 25 decretos presidenciais que Trump poderia assinar em seu primeiro dia de governo.», explicou Moore.
A ideia foi inspirada na primeira semana da presidência de Ronald Reagan na Casa Branca, quando ele tomou medidas para desregular o setor energético, conforme prometera durante a campanha eleitoral. A equipe de transição de Trump tem inventariado os decretos presidenciais de Obama que possam ser revogados. Dado que os democratas não tinham maioria para legislar no Senado e na Câmara dos Representantes, Obama usou muitas vezes esse expediente para andar para a frente com as suas políticas na área da saúde e até com a assinatura dos EUA nas normas ambientais saídas do Acordo de Paris. «Esse é um problema dos decretos presidenciais que penso que a esquerda realmente não entendeu», afirmou Moore. «Se se governa por meio de decretos presidenciais, o presidente seguinte pode revogá-los.»
Independentemente do que mais poderá fazer em 20 de janeiro, é previsível que Donald Trump começará por uma medida que contemple sua principal promessa de campanha: mudar radicalmente as regras para imigração nos Estados Unidos. «Quem quer que tenha entrado ilegalmente no país está sujeito a deportação», disse ele em agosto a uma multidão em Phoenix.
Parte dos observadores considera ser difícil a agenda de Trump, depois de eleito, ser tão radical. Baseiam-se em dois argumentos fundamentais: haveria mecanismos institucionais que permitiriam matizar as politicas presidenciais; e uma coisa são as promessas e outra, muito diferente, a presidência. As duas aceções são falsas: oarte desses poderes de fiscalização e controle estão enfraquecidos e são exercidos a posteriori. Um presidente pode sempre avançar com políticas e medidas que só muito mais tarde podem eventualmente ser revertidas. E, por estranho que pareça, os presidentes cumprem as suas promessas. Em 1984, o cientista político Michael Krukones compilou as promessas de campanha de todos os presidentes norte-americanos, de Woodrow Wilson a Jimmy Carter, e descobriu que eles cumpriram 73% do que prometeram. Mais recentemente, o PolitiFact, um site apartidário dedicado à verificação de fatos, avaliou mais de 500 promessas de campanha de Barack Obama e concluiu, para desgosto de seus oponentes, que ele realizou 70% delas.
O programa de Donald Trump e as suas nomeações demonstram que a política norte-americana vai fazer um conjunto de ruturas com consequências difíceis de prever no nosso planeta. Uma das áreas mais complicadas será as de relações com a Rússia de Putin. Embora os democratas e a comunicação social dos EUA sublinhem algumas cumplicidades entre os dois homens, e a nomeação do antigo CEO da Exxon Mobil, Rex W. Tillerson pareça confirmá-las, é pouco provável que essa coabitação não se faça sem perigos e conflitos violentos acrescidos.
Os EUA podem desinvestir da NATO, e deixarem cair batalhas como a contestação à anexação da Crimeia, mas as faíscas podem acontecer do outro lado do mundo. Há duas questões que são fraturantes: uma estrutural e outra que pode conduzir a um conflito imediato. A estrutural é que a escalada de agressividade dos EUA contra a China pode envolver a Rússia, que é um aliado de Pequim. A mais explosiva, em termos imediatos, é a questão do Irão. Israel nunca engoliu o acordo nuclear com o Irão e sempre pediu autorização e apoio dos EUA para atacar militarmente as instalações nucleares do Irão.
Um ataque dos EUA ao Irão poderá conduzir a um conflito direto com a Rússia. Teerão é neste momento o aliado estratégico de Moscovo na região, tal como Israel e a Arábia Saudita são os principais pilares de Washington na região.
No início da semana, Marc Bassets. afirmava nas páginas do El País que a Administração de Trump estava entre os generais e os ideólogos passando pelos banqueiros e relembrava que o candidato, que fez a campanha a favor da classe operária branca contra o grande capital global, tem o governo dos EUA com maior número de multimilionários de sempre. Um governo adornado com generais, alguns deles, como o seu secretário de Defesa o general James Mattis, antigo chefe de operações no Médio Oriente, com uma alcunhas inspiradora para a paz mundial: ‘cão raivoso’ .