Apesar da “unanimidade e aclamação” com que foi aprovado na concelhia do PS Porto o apoio a Rui Moreira nas autárquicas de 2017, o assunto não é pacífico entre os socialistas portuenses. A prová-lo está a troca de palavras entre o ex-líder da Federação Socialista e atual secretário de Estado, José Luís Carneiro, e o líder da concelhia e deputado, Tiago Barbosa Ribeiro.
Carneiro acha que não ter candidato próprio “diminui a legitimidade política” do PS no Porto. Barbosa Ribeiro considera que as palavras do governante “revelam uma visão redutora da ação política”.
‘desconhecimento’
Em declarações ao i, Tiago Barbosa Ribeiro diz que as declarações José Luís Carneiro feitas ao “DN” este domingo “desrespeitam a orientação expressa no Congresso Nacional, na Federação Distrital e na Concelhia do PS Porto” e são fruto do desconhecimento do trabalho feito na Invicta pelo independente Rui Moreira – que conta com o apoio não só do PS, mas também do CDS.
“É legítimo que quem sempre esteve contra este apoio assim se mantenha, como parece ser o caso, ignorando o trabalho desenvolvido na cidade”, afirma Barbosa Ribeiro, que acredita que “a autonomia do PS preserva-se com respeito pelas decisões dos órgãos e com respeito pela inteligência dos eleitores”.
De resto, o líder da concelhia do PS Porto critica a forma como o ex-apoiante de António José Seguro, agora no governo de Costa, fala sobre o apoio a um candidato independente.
“Não podemos falar de abertura dos partidos, nomeadamente em relação a independentes e movimentos de cidadãos, e depois alimentar o seu fechamento em função de lógicas que não têm certamente que ver com o bem comum”, ataca Tiago Barbosa Ribeiro que só encontra justificação para as posições do secretário de Estado das Comunidades no “desconhecimento” do que se passa na cidade. “Todas as opiniões são respeitáveis, incluindo as que se baseiam num grande desconhecimento da realidade, mas as afirmações de José Luís Carneiro não se aplicam à comunidade do Porto”, afirma ao i.
descontentes no ps
Carneiro, que era presidente da Federação Distrital do Porto até ser convidado para o governo, faz parte de uma corrente socialista descontente com o apoio a Moreira, mas que para já prefere não dar a cara. “O PS está dividido. E essa divisão vai ter impacto na campanha eleitoral no Porto”, defende uma fonte socialista, que acredita que Carneiro quis aproveitar a entrevista ao “DN” para deixar declarações para memória futura.
“Está a posicionar-se para capitalizar o descontentamento que há no Porto”, analisa a mesma fonte, defendendo que para já a atitude nos socialistas é a de esperar para ver. “Vai depender tudo do acordo que for feito quer em termos programáticos, quer em termos de listas”, prevê o socialista.
José Luís Carneiro, que foi substituído na Federação por aquele que é visto como o número dois de Rui Moreira na Câmara – Manuel Pizarro –, acredita, aliás, que a forma como o processo autárquico está a decorrer no Porto já lhe está a dar razão. “Quando afirmava na altura que o PS perderia autonomia estratégica para se afirmar como uma alternativa, julgo que, desse ponto de vista, o tempo acabou por me dar razão”, afirmou ao “DN” o governante, que acha que o facto de o partido não apresentar listas próprias a assembleias de freguesias e juntas de freguesia criará uma “desvinculação” entre os militantes e as estruturas socialistas.