À direita e à esquerda existiam muitas dúvidas de que a “geringonça” pudesse funcionar. O sentimento dos mais cépticos pode resumir-se numa frase de Passos Coelho aos deputados do PSD, antes das férias de Verão: «em setembro vem aí o diabo»
O diabo não veio e António Costa não só conseguiu aprovar dois orçamentos do Estado com o apoio do Bloco de Esquerda e do PCP – o que lhe garante condições para cumprir, pelo menos, metade da legislatura – como conseguiu convencer Bruxelas de que o governo de esquerda não coloca em risco o cumprimento das regras europeias.
«É geringonça, mas funciona. É uma grande vantagem, estão a ver? É geringonça, mas funciona.», disse António Costa, na Assembleia da República, em abril, dirigindo-se às bancadas do PSD e do CDS. Para que a geringonça funcione outra peça fundamental foi Marcelo Rebelo de Sousa, que em momentos chave apareceu ao lado do Governo.
O balanço do ano foi feito por António Costa no jantar de Natal do grupo parlamentar do PS: «em 2016 já aprovámos dois orçamentos e a novidade é que nenhum deles foi retificativo. Mas há uma segunda novidade: é que o Orçamento do Estado para 2016 foi cumprido e, ao contrário do que muitos receavam, podemos agora dizer que temos a melhor execução dos últimos 42 anos».
A grande novidade da nova solução política foi uma forma diferente de distribuir a austeridade. Muitas das medidas do tempo da troika foram revogadas. São exemplos disso a reposição dos salários aos funcionários públicos, a reposição das 35 horas para a Função Pública, a eliminação faseada da sobretaxa do IRS, a reposição dos feriados ou a descida do IVA na restauração. 2016 foi também o ano em que o governo recuou na privatização da TAP e nas empresas públicas de transportes.
Medidas reivindicadas pelo PCP e BE e que permitiram a Costa governar num clima de paz social. «2016 é o ano com menos greves da década», realçou o líder parlamentar Carlos César, líder parlamentar, no último debate quinzenal.
Com Passos a ser contestado internamente, o PS recuperou nas sondagens e está a aproximar-se da maioria absoluta. 2016 correu bem à geringonça, mas sobretudo a António Costa.