O convite foi feito a 19 de março, mas só aceitou um mês depois, após ter reuniões com Frankfurt e Bruxelas, para perceber se era possível fazer um aumento de capital sem estar sujeito ao regime de ajudas de Estado. Essa foi a primeira condição.
A partir daí rapidamente arregaçou as mangas. O trabalho que tinha pela frente não era fácil: negociar com Bruxelas o plano de recapitalização do maior banco do país. Ao mesmo tempo, tinha de pensar numa estratégia de pôr a instituição financeira a dar lucros. Uma tarefa que estava longe de ser tranquila, já que o banco há cinco anos consecutivos que apresentava perdas.
Mas os problemas para António Domingues começaram cedo. Desde logo pelo seu ordenado e que criou forte polémica. O ex-administrador do BPI iria receber 423 mil euros brutos por ano – que totaliza um salário mensal de cerca de 30 mil euros, montante pago 14 vezes – ou seja, o salário mais alto de sempre pago alguma vez na Caixa. O descontentamento da classe política e, não só, levaram o ministério das Finanças a justificar o valar: era preciso uma pessoa competente para o cargo e, como tal, era preciso pagar um salário equivalente ao que é praticado na banca privada. Para isso, o Governo teve de alterar o estatuto de gestor público.
Ainda a poeira estava no ar quando recebeu o primeiro cartão vermelho por parte do BCE que apesar de aprovar o modelo de governação e de administração da Caixa, só aceitou 11 dos 19 nomes propostos. Também a situação de Domingues acumular funções de chairman e CEO foi apenas por seis meses, a partir daí teria de ser revista.
Mas esta instabilidade estava longe do fim. Após cinco semanas de polémica, o gestor escolhido pelo Governo apresentou a demissão do cargo a 27 de novembro depois de aprovada uma lei que o obrigaria a apresentar a declaração de património ao Tribunal Constitucional. Domingues bateu com a porta por considerar a mudança na lei ofensiva e lesiva da autonomia da CGD. As explicações depois disso foram poucas ou nenhumas.