“O episódio de Santos Silva é mais grave que o de João Soares”, afirma Carlos Abreu Amorim ao i. Para o deputado do PSD, o facto de o ministro Augusto Santos Silva ter comparado a concertação social a “uma feira de gado” tem mais relevância do que João Soares, quando era ministro da Cultura, ter ameaçado dois cronistas de “bofetadas”. Segundo Abreu Amorim, “João Soares desabafou num momento de ira enquanto Augusto Santos Silva disse o que verdadeiramente pensa”.
Ontem, Santos Silva veio pedir desculpa pela gaffe. O ministro dos Negócios Estrangeiros, em declarações à “TSF”, reconheceu que as suas palavras “foram excessivas”, pedindo “desculpa” depois de reparar que havia “causado desconforto entre os parceiros sociais”.
“Comparei a negociação [em sede de concertação social] a uma feira de gado. O que queria dizer com isso era mostrar a dureza da negociação”, defendeu também. Para Santos Silva, o tom foi “de brincadeira” e a polémica resultou de “um registo público de uma conversa privada”.
No jantar de Natal do grupo parlamentar do Partido Socialista, Santos Silva fora captado por câmaras e microfones a cumprimentar o ministro do Trabalho Vieira da Silva.
“Ali o Vieira da Silva conseguiu mais um acordo! Ó Zé António, és o maior! Grande negociante… Era como uma feira de gado! Foram todos menos a CGTP? Parabéns”, saudou, abraçando o colega de governo.
Em reação, tanto o presidente da CIP como o presidente da Confederação dos Agricultores (CAP) distanciaram-se das declarações do ministro, embora sublinhando a importância do acordo referido.
Desculpas aceites António Saraiva disse ao i que Santos Silva, “para ministro dos Negócios Estrangeiros, usou pouca diplomacia”, mas aceitou o pedido de desculpas realizado ontem. O importante para o presidente da CIP é “valorizar o acordo”. E foi nessa linha que João Machado, apesar de não se “identificar com as declarações”, também falou ao i. “O essencial do acordo é ter sido fechado”.
Oportunidade para estar calado Com menor espírito de perdão chegaram as declarações do presidente da Confederação de Comércio e Serviços, João Vieira Lopes, à “SIC”, afirmando que Augusto Santos “nem estava presente nas negociações” do acordo em sede de concertação social e “perdeu uma boa oportunidade para estar calado”. “É uma frase infeliz e mesmo absurda”, atirou Vieira Lopes.
Por outro lado, Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, contactado pelo i, limitou-se a afirmar que “a CGTP não comenta declarações desta natureza”.
Fonte próxima da central sindical que se reservou ao anonimato desabafou no entanto que “isto não foi só infeliz, foi de baixo nível”.
Não se demite? e ninguém pede a demissão dele? As reações da oposição ao governo liderado por António Costa subiram de tom ao longo do dia de ontem. Deputados social-democratas criticaram o dito por Santos Silva. Luís Vales escreveu na sua página que “Manuel Pinho fez uns corninhos, António Costa fez uma vaca voar e agora Augusto Santos Silva trata os parceiros sociais como Feira do Gado”. Bruno Vitorino, que é coordenador na Comissão de Defesa da Assembleia, atacou: “Viva o PS! E o senhor não se demite? E ninguém pede a demissão dele?”.
Ao i, Nuno Magalhães, presidente do grupo parlamentar do CDS, avaliou a situação. “A frase [de Santos Silva] revela uma total falta de sentido de humor do senhor ministro e a visão que este governo tem da concertação social substituindo-a por imposição governamental à luz de satisfação de clientelas partidárias em vez de verdadeiro diálogo social”.
Abreu Amorim, vice da bancada do PSD, apontou também ao i que o episódio com Santos Silva prova “uma falta de sentido de Estado” e que “o governo pensa que a concertação social é uma maçada”. Do ponto de vista do deputado – que não ficou “surpreendido com o silêncio da CGTP” – o governo “desconsidera um órgão constitucional como a concertação social ao “qualificá-la como uma feira de gado”.