Há três anos o antigo conselheiro e histórico dirigente do PSD António Capucho foi expulso pelo Conselho de Jurisdição do partido por ser o cabeça-de-lista à Assembleia Municipal de Sintra numa lista de independentes adversária da candidatura social-democrata.
Três anos volvidos, a lista independente ‘Sintrenses com Marco Almeida’ (outro ex-militante empurrado para fora do PSD na sequência das autárquicas de 2013) volta a recandidatar-se à segunda maior câmara do país encabeçada pelos mesmos protagonistas. Marco Almeida é o candidato à presidência, António Capucho o líder da lista à Assembleia Municipal. Só que, desta vez, o PSD prepara-se para apoiar a candidatura independente para “retirar a câmara ao PS”.
O convite a Capucho foi avançado por Marco Almeida e confirmada ao i por fonte próxima do antigo conselheiro de Estado.
O que mudou então três anos depois de 90 militantes do PSD de Sintra terem sido expulsos ou abandonado pelo próprio pé a militância social-democrata por “apoiarem uma lista adversária do partido”?
“Basicamente, quer o coordenador nacional autárquico do PSD, Carlos Carreiras (atual presidente da Câmara de Cascais), quer o presidente da distrital, Miguel Pinto Luz, sabem que o partido dificilmente irá além de vitórias em Cascais e Mafra. Por isso, viraram-se para discutir um apoio às candidaturas independentes em Sintra e Oeiras onde podem sair vencedores e assim apresentar resultados”, disse ao i fonte próxima do histórico e antigo dirigente social-democrata.
A mesma fonte assegurou ainda que responsáveis pela lista independente – Marco Almeida e o próprio António Capucho – já participaram em dois jantares com o líder da distrital, Miguel Pinto Luz, e em dois encontros com dirigentes da concelhia de Sintra do PSD. Houve ainda um outro encontro mais alargado entre apoiantes e militantes das duas partes.
“O que posso assegurar é que em todos eles não houve uma única voz de oposição ou resistência a uma solução que passa pelo apoio do PSD à lista independente liderada por Marco António”, disse.
E adiantou mesmo: “Esta é uma oportunidade única para a reconciliação da família social-democrata no concelho. Não estamos a falar só numa câmara. Estamos a referir-nos à segunda maior câmara do país, a seguir a Lisboa”.
Oposição ou rejeição
A fonte desvalorizou ainda qualquer oposição ou rejeição a nomes, em especial o de António Capucho, com origem na direção nacional do partido ou do próprio Pedro Passo Coelho.
“Parece-nos inverosímil que a liderança do PSD venha a opor-se a esta solução, apesar da reconhecida animosidade entre Pedro Passos Coelho e António Capucho. Além disso, do que conhecemos dos estatutos do partido, o presidente e a direção nacional não podem vetar candidatos aprovados pelas estruturas locais (concelhias e distritais). Todavia, sabemos do peso de um líder nacional rejeitar um nome. Mas se isso acontecer, pode ser uma oportunidade perdida para reconciliar a família social-democrata no concelho e retirar a câmara ao PS”, advertiu.
Aliás, a fonte reconheceu “esse desentendimento” entre os dois e lembrou que Capucho ao longo dos anos que se tem mantido fora do PSD já por mais de uma vez fez questão de acentuar que não descarta um regresso à militância partidária, mas isso nunca acontecerá enquanto Passos Coelho estiver na liderança dos sociais-democratas.
O processo de expulsão
A decisão do Conselho de Jurisdição do PSD, então presidido por Calvão da Silva, em expulsar António Capucho remonta à primeira metade de fevereiro de 2014.
Na sequência das eleições do final de setembro de 2013 aquele órgão disciplinar dos sociais-democratas aprovou por unanimidade a expulsão de António Capucho. Foi um desfecho esperado e que não surpreendeu o próprio visado. O argumento utilizado foi o já anteriormente descrito. Como militante do PSD, Capucho integrou uma lista adversária da apresentada a sufrágio pelo partido de que era militante.
Durante o processo, o militante histórico do PSD invocou em sua defesa que houve uma violação dos estatutos do partido nas autárquicas de Sintra, dado que a comissão política distrital de Lisboa e a nacional recusaram a candidatura de Marco Almeida, quando esta tinha sido aprovada pelas bases do partido. Capucho invocou também o seu percurso de 40 anos no partido. No entanto, disse então Calvão da Silva, essa questão não podia ser levada em conta pelo Conselho de Jurisdição.
“Não temos poder nenhum de apreciação da oportunidade política, nem podemos ter em conta nomeadamente os altos serviços prestados ao partido” por António Capucho, afirmou então ao i Calvão da Silva. “Trata-se de um processo automático”, sublinhou. Ficando provado que um militante social-democrata integrou listas adversárias às do partido “efetiva-se a cessação da inscrição”. “Somos escravos dos estatutos”, referiu o presidente do Conselho de Jurisdição.
Nas eleições autárquicas de 2013, a lista independente foi a segunda mais votada pelos sintrenses, tanto para a Câmara como para a Assembleia Municipal, a seguir ao PS, que venceu, mas à frente de uma coligação entre o PSD, o CDS e o MPT. A lista Sintrenses com Marco Almeida elegeu quatro vereadores, tantos como o PS liderado por Basílio Horta, e para a assembleia conquistou nove lugares contra 11 da lista socialista. A coligação que o PSD integrou só meteu dois vereadores e seis deputados municipais.