Foi ministro das Finanças durante quatro meses e nove dias, vai para uma dúzia de anos. Mas ontem, perante os deputados da comissão de inquérito parlamentar à Caixa Geral de Depósitos, ficou a saber-se que entre as causas da sua saída prematura do primeiro governo de Sócrates [2005/2009] estiveram as pressões do então primeiro-ministro para que demitisse a administração da CGD presidida por Vítor Martins.
E disse mais: que o antigo governante socialista queria mesmo substituir Vítor Martins por Carlos Santos Ferreira. E com a entrada deste, exigia também a chegada de Armando Vara à administração do banco público.
Professor catedrático, antigo vice-governador do Banco de Portugal e ex-governante, Luís Campos e Cunha, apontado como um dos trunfos do primeiro governo de maioria do Partido Socialista assegurou em comissão que recebeu, por mais de uma vez, indicações de que era preciso demitir a administração da Caixa Geral de Depósitos liderada então por Vítor Martins.
Campos e Cunha lembrou mesmo que os membros dessa administração eram apelidados de “inimigos”, questionando-se acerca do que alguém pode fazer perante um argumento como esse.
Campos e Cunha reconheceu que, ao longo daqueles meses em que se sentou no Conselho de Ministros, registou sempre uma grande dificuldade de relacionamento com Sócrates.
“Nesses quatro meses tive sempre grande dificuldade em falar com o primeiro-ministro”, disse perante os deputados.
Um dos apontamentos mais curiosos desta audição na Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à Gestão do Banco entre 15 de Outubro e 30 de Novembro de 2016, aconteceu quando Luís Campos e Cunha adiantou aos deputados que as dificuldades de relacionamento entre o então ministro das Finanças e o primeiro-ministro levaram a que este tivesse de “mandar entregar a carta de demissão em mão, por protocolo, porque não conseguia falar” com José Sócrates.
Ou seja, como fez questão de esclarecer, não conseguiu reunir-se com o então chefe do governo para apresentar a demissão.
Talvez por isso tenha notado perante os membros da comissão de inquérito que a sua relação com a Caixa Geral de Depósitos “não teve um período de maturidade suficiente” porque só passou quatro meses à frente do Ministério das Finanças, entidade que detém a tutela do banco público.
Disse anda que sempre defendeu que deve ser dado “tempo às pessoas para trabalharem e terminarem os seus mandatos” e que os contactos que manteve com Vítor Martins foram “muito positivos”, sentindo que “a CGD tinha uma estratégia”.