Oque têm em comum José Maria Ricciardi e Francisco Louçã? Manuela Ferreira Leite e Mariana Mortágua? Paulo Rangel e Jerónimo de Sousa? Luís Nobre Guedes e Catarina Martins? Todos acreditam que neste momento nacionalizar o Novo Banco pode ser a melhor solução.
O estranho consenso de regime que parece estar a formar-se em torno de uma nacionalização – ainda que temporária – do Novo Banco tem explicação nas propostas que estão em cima da mesa. Tanto a da Lone Star (considerada a melhor pelo Banco de Portugal) como a da Apollo/Centerbridge implicam a prestação de garantias do Estado o que, na prática, significa que terão custos para os contribuintes.
Além disso, os fundos que apresentaram propostas de compra são conhecidos por adquirir empresas e bancos em dificuldades para os desmantelar e vender rapidamente ao melhor preço. Características que fazem temer o pior numa altura em que a banca nacional está cada vez mais sob controlo estrangeiro.
Tudo somado, são cada vez mais as vozes à direita que se juntam à reivindicação da esquerda de manter o banco na esfera pública – embora fora da CGD – para o recapitalizar e mais tarde o vender.
«O Novo Banco poderá não estar saudável, mas está a recuperar. Não deverá ser vendido ao desbarato», avisa esta semana o Financial Times, lembrando que o Estado deve ter em conta os cerca de cinco mil milhões de euros que já injetou no banco ao avaliar propostas como a da Lone Star que não oferece mais do que 750 milhões e ainda exige garantias ao Estado.
«Um banco não é um edifício. É uma estrutura, um projeto, uma intervenção na economia. Esta instituição [a Lone Star] não nos dá nenhuma garantia, acho eu, de que este projeto é para ir por diante», avisou Manuela Ferreira Leite que vê na nacionalização temporária uma solução possível.
«Não se pode admitir, de todo em todo, que o Novo Banco seja esquartejado, seja separado em postas para depois serem alienadas», argumenta Pedro Santana Lopes num artigo de opinião no Jornal de Negócios no qual nunca fala diretamente em nacionalização, mas acaba por concluir que a venda nestes termos pode ser a pior solução. «Nesse quadro é melhor não haver venda do que haver uma venda qualquer», escreve Santana Lopes, na mesma linha de raciocínio seguida por Paulo Rangel e por Luís Nobre Guedes para admitirem que as propostas em cima da mesa aconselham a que o Estado mantenha para já a propriedade do banco para o alienar apenas quando as condições forem mais favoráveis.
«Eu acho que é melhor o banco ser nacionalizado», defendeu também José Maria Ricciardi (antigo administrador do BES), lembrando que se trata de um «um dos principais bancos a financiar as pequenas e médias empresas». Ricciardi considera mesmo que a intenção destes fundos «é vender o banco aos bocados» e que esse é um cenário que não beneficiará o sistema financeiro português.
Os argumentos de Francisco Louçã sobre a natureza dos fundos compradores são semelhantes aos usados por Ricciardi. Mas Louçã é aquele que vai mais longe ao definir um plano para o Novo Banco que passe por «fazer as contas com rigor», alienar operações não bancárias e fazer uma recapitalização «ao longo do tempo».
Uma coisa é certa: a nacionalização do Novo Banco deixou de ser um tabu político. Para já, está entre as possibilidades que estão a ser estudadas pelo Governo, que mantém, contudo, as negociações para a sua venda.