A morte de Mário Soares, ainda que há muito esperada, chegou na tarde solarenga de sábado, pelas 15h45 – saber-se-ia mais tarde que a notícia foi dada cerca de 15 minutos após a morte do antigo líder socialista (foi declarada às 15h28). Não demorou muito até que jornalistas, fotógrafos e repórteres de imagem se juntassem à porta do Hospital da Cruz Vermelha. Aguardava-se o anúncio oficial da morte já confirmada. Calhou novamente a José Barata, porta-voz do hospital e cara dos vários boletins clínicos divulgados ao longo do mês de dezembro, encaminhar todos, cerca de uma hora mais tarde, para a sala de imprensa no interior do hospital, onde já se encontravam o diretor clínico, Manuel Pedro Magalhães, e os dois filhos de Mário Soares, João e Isabel Soares.
“É com enorme tristeza que o Hospital da Cruz Vermelha anuncia a todos que, na presença constante dos seus filhos João e Isabel, às 15h28 do dia 7 de janeiro de 2017 ocorreu o falecimento do sr. dr. Mário Soares”, afirmou o diretor clínico.
Os filhos do histórico socialista, visivelmente consternados, agradeceram “profundamente” ao hospital, em particular à sua equipa clínica de médicos, enfermeiros e auxiliares, o modo como Mário Soares foi tratado durante o internamento.
“Soares é fixe”
Cerca das 17h15 chegava Marcelo Rebelo de Sousa, a primeira figura política que se deslocou ao hospital para apresentar condolências à família. Dez minutos depois foi a vez do presidente da Assembleia da República. Saíram ao mesmo tempo do hospital, por volta das 17h45, mas apenas Eduardo Ferro Rodrigues falou com os jornalistas. “É um dia triste para os democratas portugueses”, afirmou o socialista. “Militante número um da democracia portuguesa. Em algum momento, todos nós, em várias gerações, tivemos Mário Soares como um herói”, acrescentou.
O presidente da Assembleia da República disse ainda acreditar que “as palavras de ordem” muitas vezes repetidas – “Soares é fixe” – vão “perdurar durante muitos anos” porque vão apropriar-se “da figura”, “da imagem” e “da recordação” do histórico socialista.
O vice-presidente da Assembleia da República, Jorge Lacão, também passou pelo estabelecimento hospitalar, bem como Maria Manuel Leitão Marques. A ministra da Presidência foi até ao Hospital da Cruz Vermelha em nome do governo, uma vez que o primeiro-ministro se encontra numa visita de Estado à Índia.
“Uma pessoa alegre”
Em declarações aos jornalistas, cerca das 18h30, disse tratar-se de um “dia de luto nacional para todo o país”. “Perdemos uma personalidade que faz parte da nossa história”, afirmou a ministra, descrevendo o fundador do PS como “uma pessoa alegre”, que conhecia “muito bem o povo português nas suas diferentes dimensões”. “Um verdadeiro social-democrata”, acrescentou.
A governante recordou ainda as histórias contadas nas aulas dadas por Mário Soares na sua faculdade, onde ele lecionou depois de ter sido Presidente da República. “Espero que as tenha deixado escritas porque eram histórias que fazem parte da nossa história – histórias de vida, no exílio, na prisão.”
Minutos depois surgiu o presidente da Câmara de Lisboa. “Mário Soares é um homem maior da vida portuguesa”, afirmou Fernando Medina à saída do hospital.
“Mário Soares é alguém a quem devemos muito: a nossa vida democrática, vivermos em liberdade. Não há palavras que sejam suficientes para lhe agradecer tudo o que nos deixa.”