“Não sei como vamos viver sem si”

A voz de Maria Barroso acabava de ecoar nos claustros do mosteiro dos Jerónimos quando Isabel Soares subiu ao púlpito para uma emocionante despedida ao pai, Mário Soares.

O poema escolhido pelos filhos que soou na voz de Maria Barroso foi o "Dois poemas de amor da hora triste". Um texto sobre uma despedida que é também um "até já". E foi com um "até sempre, pai" que Isabel Soares se despediu.

"Não sei como vamos viver sem si, sem a sua presença e, sobretudo, sem os nossos almoços de domingo em que todos discutíamos ao mesmo tempo e nos atropelávamos no entusiasmo das palavras", confessou a filha de Mário Soares, que prometeu seguir a lição do pai.

"Como o pai dizia permanentemente 'só é vencido quem desiste de lutar'. E foi essa a imagem que nos passou. Nunca desistir e lutar sempre por aquilo em que acreditávamos", afirmou Isabel que recordou não sou o herói do país, mas também o herói dos filhos.

"O pai era, para o João e para mim, o nosso herói. Quando o pai estava, tudo parecia tranquilo e seguro", lembrou, sem esquecer que foi a mãe e o avô quem lhes ensinou a não chorar na presença dos pides quando em crianças visitavam Soares nas prisões do Aljube e d Caxias,"cheios de raiva contida".

"Em 1974 foi a explosão da liberdade e da democracia e eu reencontrei o pai", disse Isabel Soares, contando como durante esse período revolucionário andou ao lado de Mário Soares "de norte a sul do país, os dois sozinhos" num velho renault 16.

Foi uma "cumplicidade que ficaria até ao fim" é que se estendeu ao "prazer das idas às livrarias, dos jantares" em Paris ou dos momentos em que juntos escolhiam gravatas e fatos.

"A mãe dizia que éramos iguais de feitio, apaixonados e coléricos", revelou, sem esquecer os momentos, como em 2006, em que nem a sua opinião travou o ímpeto do pai.

"Da mesma forma que o pai me procurava quando queria saber a minha opinião, mesmo que depois fizesse o que quisesse, como na última campanha de 2006", vincou a filha que não quis deixar por dizer a importância da mãe no percurso do pai.

"E é justo dizer isso aqui, que o pai nunca teria feito o que fez ou chegado onde chegou sem a presença tranquila, serena e doce, mas firme, dessa mulher admirável que foi a sua. Tinham a mesma dimensão. E é esse o nosso maior orgulho", afirmou uma Isabel Soares visivelmente emocionada, prometendo honrar a imagem de Mário Soares e manter "viva a sua imagem e a sua fundação ".

"Até sempre, pai".