Passos Coelho reage a críticos e promete dar luta

Pedro Passos Coelho está a dar sinais de que está para durar na liderança do PSD e que não vai fazer nada para tornar mais fácil a vida de António Costa. A TSU é só o começo.

Depois de semanas acossado por críticas internas mais ou menos em surdina e pela ideia de que estaria a prazo, Pedro Passos Coelho reagiu. Na reunião da bancada parlamentar, o líder do PSD deixou claro aos deputados que está a fazer uma corrida de fundo para ganhar o poder a António Costa e que não vai facilitar a vida ao primeiro-ministro.

«Pela primeira vez, Passos Coelho disse na reunião da bancada aquilo que quem está na comissão permanente do partido já sabia que ele pensa. A geringonça vai durar mais tempo do que muita gente pensava», conta uma fonte social-democrata, explicando que a decisão de votar contra um desconto da TSU (Taxa Social Única) para os patrões só surpreende quem não esteve atento ao que tem dito o líder.

«Sempre dissemos que não queríamos um Governo de geometrias variáveis. Não acreditaram em nós por causa da votação para viabilizar o Orçamento para o Banif. Mas nessa altura tínhamos acabado de sair do Governo e era fácil responsabilizarem-nos. Agora, já passou muito tempo», frisa a mesma fonte.

Hostes do PSD animam-se: ‘voltámos à política’

A declaração de que Passos decidiu não dar a mão a Costa num tema no qual tem a oposição de BE e PCP animou as hostes sociais-democratas. «Voltámos à política. Finalmente», comentava um deputado no dia da reunião da bancada. A decisão de «não ser muleta do Governo» – como disse Luís Montenegro – entusiasmou aqueles que há muito pediam uma oposição mais aguerrida. «Não podem aliar-se à esquerda para as medidas populares e estar à nossa espera para viabilizar o que é menos simpático», defendia a mesma fonte.

Rui Rio perde gás, Passos melhora comunicação

Pedro Passos Coelho tem dado todos os sinais de que está para ficar e o pouco entusiasmo que havia em torno de uma possível candidatura de Rui Rio à liderança do partido arrefeceu com o balde de água fria que foram as declarações do ex-autarca do Porto ao Expresso afirmando não estar interessado na convocatória de um congresso extraordinário que os seus apoiantes queriam forçar.

A combinação dos dois fatores faz com que cada vez mais Passos Coelho pareça estar para durar. «Ele funciona melhor picado. Quanto mais o picam, melhor ele funciona», diz uma fonte próxima de Pedro Passos Coelho, que o vê com energia redobrada depois dos rumores sobre uma possível disputa pela liderança.

Para já, Passos Coelho está apostado em que a sua mensagem passe melhor. Um dos instrumentos para o conseguir foi a newsletter do partido que chega ao final do dia às caixas de correio de militantes e jornalistas e ajuda a marcar a agenda com os temas do PSD.

Fugir do diabo

Foi, de resto, através dessa newsletter que se fez a reação oficial do PSD ao facto de os juros da dívida terem ultrapassado a barreira dos 4%. Maria Luís Albuquerque escreveu um artigo de opinião para avisar que os juros «se aproximam perigosamente de níveis insustentáveis», resguardando Passos de aparecer mais uma vez associado ao anúncio da vinda do diabo e evitando o desgaste de estar sempre a falar da mesma coisa. É que no PSD acredita-se que o dinheiro que Portugal tem de pagar para se financiar nos mercados ainda vai aumentar e não vale a pena estar continuamente a apontar uma subida que acreditam ser inevitável.

Na cúpula do PSD nem se quer ouvir falar do diabo que António Costa soube colar a Passos, mas admite-se a «inabilidade» do partido em gerir um discurso de alerta sem parecer demasiado derrotista e defende-se que Passos Coelho está a acertar o tom.

Mensagem não vai mudar

Na mensagem, não vai mudar nada. O líder social-democrata continua coerente com o que sempre disse e a acreditar que esse é o seu maior trunfo, mas há uma tentativa de agarrar as hostes que pareciam estar a desmobilizar com a constante subida do PS nas sondagens e a aparente solidez da solução governativa à esquerda.

Passos Coelho está crente de que tem pela frente uma maratona e que não vale a pena perder o fôlego. A sondagem do Expresso ontem conhecida parece dar razão a uma teoria que circula no seu círculo mais próximo, ao mostrar uma descida de 1,2% no índice de popularidade de António Costa e de 0,7 pontos percentuais nas intenções de voto no PS.

«Normalmente, os Governo aplicam as medidas menos simpáticas no início e as mais populares na reta final. Eles tiveram de fazer ao contrário e isso vai notar-se», aponta uma fonte próxima de Passos Coelho, que acredita que a partir daqui o Governo só pode começar a fazer um caminho descendente nas sondagens. «Já não têm mais nada para dar às pessoas, porque a economia não permite dar mais e isso cria desgaste», sustenta a mesma fonte, que diz que o PS «já atingiu o teto» das intenções de voto depois das reposições do Orçamento de 2017.