Temos assistido nas últimas semanas a episódios de extrema violência entre jovens. Repetem-se as cenas arrepiantes de agressão, muitas vezes com outros jovens a assistir (e em alguns casos a aplaudir e incentivar). As novas tecnologias e as redes sociais, de que tenho sido muitas vezes crítico, têm tido nestas situações um importante papel, permitindo filmar as agressões e dá-las a conhecer a toda a gente.
Somos cada vez mais uma sociedade com paredes de vidro, com as suas desvantagens e vantagens.
A violência entre jovens, mesmo ocorrendo fora da escola, tem frequentemente origem dentro das paredes do estabelecimento escolar. E a repetição destes episódios violentos mostra que a escola não está a desempenhar convenientemente o seu papel – que não é só a transmissão de conhecimentos mas também a formação de pessoas melhores.
Os professores não podem ser apenas ‘máquinas de ensinar’: têm de ser cada vez mais ‘formadores de seres humanos’ com valores e princípios.
Na passagem da ditadura para a democracia, deu-se na escola uma alteração qualitativa.
Onde antes havia uma disciplina porventura excessiva, com professores todo-poderosos a fazer exigências nalguns casos extravagantes, hoje existe uma indisciplina generalizada, vendo–se frequentemente professores com medo dos alunos.
Muitos docentes vão para a escola assustados, debaixo de stresse. Outros metem baixa por não conseguirem suportar a pressão. Perdeu-se a alegria de ensinar. Uma professora dizia há tempos que gostava de dar aulas na prisão, pois aí, pelo menos, os alunos eram disciplinados.
Num tempo em que a instabilidade familiar aumenta a um ritmo assustador – com o número de divórcios a ultrapassar o número de casamentos –, a escola tem hoje uma responsabilidade acrescida: é o único sítio onde alguns jovens podem ser habituados a ter regras e a comportar-se de forma socialmente aceitável. Se o estabelecimento de ensino, em vez de contribuir para melhorar os jovens, se tornar uma escola de maus hábitos, que sociedade poderemos esperar amanhã?
Depois de algumas tentativas para fazer regressar a disciplina às escolas, receio que estejamos a caminhar no sentido contrário.
Há sintomas de facilitismo e são feitas opções erradas. A ideia de distribuir preservativos nas escolas, de que falei em crónica anterior, foi um péssimo sinal. É como se a escola incentivasse os alunos a ter relações dentro das suas paredes.
Sobre esse texto, recebi do leitor Alcides Canelas a seguinte carta arrepiante:
«Em relação ao artigo O Estado e o Sexo, quero partilhar consigo este caso. Há alguns anos, quando uma diretora de turma tentava saber por que é que duas alunas faltavam muito, descobriu que elas se ausentavam frequentemente da escola por causa dos namorados.
Com receio de que as menores engravidassem, conseguiu que passassem a utilizar um ‘implante anticoncecional’.
A partir desse dia, as alunas passaram a faltar muito mais, pois – como disseram – ‘assim já podiam ter as relações sexuais que desejassem’.
As alunas acabaram por abandonar a escola…
Ainda hoje a professora se sente culpada pelo percurso que as menores seguiram».
É nisto que dão certas ‘boas intenções’.
O pior que há é confundir democracia com indisciplina. E liberdade com desordem. De facto, a indisciplina mina a democracia e a desordem é inimiga da liberdade.
Casos como este que o leitor relatou, e os episódios de violência entre jovens que têm vindo a público, deviam constituir avisos sérios.
Enquanto não percebermos que a permissividade do ambiente escolar está a contribuir fortemente para a onda de deliquência juvenil, o problema vai agravar-se.
A indisciplina que se observa hoje em muitas escolas portuguesas, para além de ser um martírio para os professores, acaba por ser fatal para os alunos – que ficam condenados a um futuro sem valores nem perspetivas.
Pensando que estamos a beneficiá-los, estamos a estragar-lhes a vida.