É verdade que existem hoje fatores favoráveis à fixação de pessoas em zonas do interior. É o caso da internet, da televisão, do ‘skype’, dos telemóveis, etc., que podem atenuar o isolamento das pessoas, se souberem funcionar com esses meios. E existem as autoestradas, mas estas funcionam nos dois sentidos: para muita gente que saiu para o litoral as autoestradas servem para passar férias ou fins de semana na velha terra do interior.
A emigração para centros urbanos do litoral insere-se numa tendência universal de urbanização. As pessoas sentem que nas aldeias e pequenas vilas do interior dificilmente conseguirão melhorar de nível de vida. Então entra-se num ciclo vicioso. Como faltam empregos e equipamentos básicos, as famílias e em particular as pessoas mais novas abandonam o interior. E como diminui a população do interior, as empresas não vão para lá e fecham mais desses equipamentos…
Claro que se podem e devem conceder incentivos para atrair gente e empresas para o interior. Mas para uma empresa terão de ser incentivos generosos, compensando a distância a que ficarão de grandes mercados consumidores e também de trabalhadores; sei de pessoas que têm casas ou quintas no interior e se queixam de enormes dificuldades para encontrarem um pedreiro, um tratorista, ou um carpinteiro, quanto mais pessoal tecnicamente qualificado. As empresas também precisam de recorrer a serviços externos, a que têm acesso nas cidades do litoral, mas não nas aldeias e pequenas vilas do interior.
Creio que também joga aqui um fator psicológico. Os jovens nascidos no interior querem emigrar para o litoral não apenas por falta de oportunidades de emprego razoavelmente pago e de ensino, mas também porque, mais ou menos conscientemente, aspiram abandonar uma terra a que associam uma milenar vida de miséria.
Por volta de 1960, ano da entrada de Portugal na então criada EFTA, ouvi do prof. Francisco Pereira de Moura, então o mais reputado economista português, um alerta público que nunca esqueci. Dizia ele que a integração na EFTA aumentaria a pressão competitiva sobre as empresas portuguesas, levando-as a concentrarem-se geograficamente para melhor concorrerem, o que agravaria o fosso entre litoral e interior, que já nessa altura se esboçava.
Não sendo possível colocar aqueles equipamentos coletivos à porta de cada habitante do interior, a solução realista será concentrá-los em cidades de média dimensão nessa zona. O que significa que as aldeias estarão condenadas à extinção, salvo exceções, como as que subsistem quase só para receber emigrantes durante algumas semanas no verão.
É doloroso, até por vezes trágico, para os velhos que permanecem nas aldeias onde sempre viveram, mas das quais saíram os mais novos. Importa desenvolver formas de algum contacto com esses idosos isolados – mas não é tarefa fácil nem barata.
Francisco Sarsfield Cabral