A porta ainda está aberta para uma coligação do centro-direita para a Câmara Municipal de Lisboa em torno da candidatura de Assunção Cristas. Pelo menos por parte do CDS-PP.
Ao i, João Gonçalves Pereira, que lidera a distrital lisboeta do CDS e é vereador da câmara municipal, esclareceu que “o CDS respeita a posição expressa publicamente por Pedro Passos Coelho”, sobre o presidente do PSD ter afirmado, há cerca de duas semanas, que não haveria coligação entre os dois partidos em Lisboa, pois “o PSD não deixará de apresentar o seu candidato na capital”.
É, nesse sentido, sabido que Passos tem assumido maior presença no processo – em especial desde que a concelhia nele deixou a decisão final, tendo já endereçado convites.
Mas o CDS, diz ao i Gonçalves Pereira, porta-voz de Cristas, “mantém a mesma disponibilidade para entendimentos em Lisboa com o PSD”, pois “não fecha a porta a aliados” como os sociais-democratas.
“O CDS nunca quis a direita unida”
A tomada de posição dos centristas surge após uma acusação do presidente da concelhia do PSD/Lisboa.
Em entrevista ao diário “Público”, Mauro Xavier afirmou que “o CDS nunca quis a direita unida em Lisboa para ganhar a câmara”. E Gonçalves Pereira não tardou a reagir de volta.
“Mauro Xavier é o dirigente do PSD mais anticoligações com o CDS que eu conheço”, escreveu Gonçalves, que esperava “regozijo pela posição de Mauro Xavier ter vencido no seu próprio partido”, na medida em que, em abril do ano passado, Xavier defendera que não devia “haver coligação com o CDS para a Câmara de Lisboa”.
Foram Gonçalves Pereira e Mauro Xavier que se sentaram à mesa para negociar a coligação autárquica que apoiou Fernando Seara em 2013 e ambos assumem “estima pessoal” entre si, mas não é a primeira vez que se desmentem.
O i sabe que na génese das negociações para este ano, o acordo de 2013, no que toca a listas de vereadores, deputados municipais e juntas de freguesia, serviria como início de conversa para 2017.
No entanto, Xavier acusou depois o CDS de “entrar num mercado de gado para discutir lugares de forma especulativa” e de exigir paridade nas listas, algo que Gonçalves avalia como “tontice”, visto que terá sido Passos Coelho a não revelar “disponibilidade e interesse” em dar o apoio a Assunção Cristas.
Fonte próxima do processo, que se reservou ao anonimato, aponta que “é verdade que as exigências do CDS não eram realistas e isso fez parecer que não desejavam que as conversações dessem bom resultado”, mas também reconhece que “não faz sentido o presidente do PSD/Lisboa [Mauro Xavier] renegar vezes sem conta o apoio ao CDS e agora vir dizer que o CDS é que não queria ser apoiado”.
“Então não há coligação mas vamos unidos a quatro juntas, quando há mais de 20?”, inquire a mesma fonte, em jeito de conclusão.
Na mesma entrevista, Xavier sugeriu que os dois partidos de centro-direita deveriam garantir a manutenção das alianças que haviam vencido as juntas de freguesia em 2013. “Estrela, Belém, Areeiro e Santo António”, enumerou Xavier, sem, curiosamente, mencionar a das Avenidas Novas – talvez pelo facto de esta ser burgo de Rodrigo Gonçalves, o polémico vice-presidente da concelhia que desafiou Passos Coelho a ir ele mesmo como candidato à Câmara de Lisboa, nos finais do ano transato.
PORTA ABERTA, CULPA FECHADA
A negociação que ninguém diz que aconteceu mas de que toda a gente fala foi a de Lisboa, entre PSD e CDS, para apoiar a candidatura de Assunção Cristas à Câmara Municipal nas autárquicas deste ano.
Sem coligação da direita, o sucesso de Fernando Medina é dado como garantido e ninguém quer ficar com culpas de patrocinar o sucesso do Partido Socialista.
Uns dizem que as conversas nunca aconteceram, outros que correram abertamente, alguns que foi Passos quem vetou o acordo devido a pressões internas para ter um candidato seu, outros que foram os centristas a preferir uma candidatura mais autónoma.
Cristas despertou alguns anticorpos internos quando afirmou que não seria candidata em eleições legislativas caso ganhasse a Câmara de Lisboa, indo “outra pessoa do CDS”, e a verdade é que, sem o apoio do Partido Social Democrata, a pressão para ganhar é infinitamente menor – sozinha, ter um bom resultado é mais fácil.
Ao que o i apurou, havia também algum receio de a estrutura local do PSD prejudicar a campanha de Cristas desde que Rodrigo Gonçalves informou que não conseguiria “garantir que os militantes sociais-democratas apoiassem uma candidata do CDS”.
Mas entre negas, hesitações e mudanças de posicionamento, a tensão entre dirigentes cai a conta-gotas na praça pública. A troca de galhardetes entre Mauro Xavier e João Gonçalves Pereira é disso prova. No fim do dia, “é Medina quem agradece”, ironiza fonte camarária ao i. “Em vez de fazer oposição, estamos mais preocupados em ver quem fez mais por não ganhar.”