Notícias recentes dão conta de que os oito homens mais ricos do mundo concentram nas suas mãos uma riqueza igual à da metade mais pobre da população mundial. É chocante. Estas notícias mostram até que ponto o mundo é desigual e injusto. Mas desculpem-me os bem-intencionados, isto quer dizer muito pouco.
Sempre que se fala dos ‘homens mais ricos do mundo’, somos levados a pensar em indivíduos que vivem no luxo, na opulência, que gastam brutalmente, que se vestem ricamente, deslocando-se em grandes carros e comendo em grandes restaurantes – enquanto outros passam fome, não têm que comer nem que vestir, e vivem miseravelmente em barracas. Ora, é verdade que há muita gente miserável. Sem um mínimo de condições para viver. Mas não é verdade que os mais ricos vivam como muitos imaginam.
Bill gates não tem uma vida muito diferente da de qualquer outro americano da classe média alta. Tem uma boa casa, trabalha cinco ou seis dias por semana, vai ao cinema ou a outro espetáculo de vez em quando, veste normalissimamente. Um dia vi-o em Lisboa e constatei que tinha as solas dos sapatos tão gastas que começavam a abrir buracos. É claro que não era por não poder comprar uns novos, mas por uma questão de mentalidade. Mas era assim. E Belmiro de Azevedo tinha um carro com 10 anos e viajava de avião em classe económica porque não queria pagar o dobro para chegar ao mesmo tempo que os outros passageiros.
Os ricos sabem o valor do dinheiro e não o esbanjam.
Quando se diz que os oito mais ricos do mundo têm tanto como metade da população mundial, fica a ideia de que essas pessoas têm o dinheiro em casa, metido no cofre, e o espatifam em extravagâncias. Ora não é assim. As grandes fortunas são ‘virtuais’. Ou seja, os ricos são donos daquele dinheiro mas ele não está parado, está a circular, está a ser investido, está a criar emprego, está a alimentar milhares ou milhões de famílias pelo mundo fora. Eles não gastam a fortuna – gerem-na. E reservam para si, frequentemente, menos dinheiro do que pessoas que têm muito menos.
No mundo globalizado, o importante não é quem detém o dinheiro – o importante é o modo como é gerido o dinheiro. Se o dinheiro dos mais ricos for bem gerido, ele contribui para o crescimento dos países, contribui para aumentar a riqueza mundial, contribui para melhorar a vida de muita gente. Inversamente, se o dinheiro for mal gerido, desaparece e não fica nada.
Aquela imagem do patrão barrigudo de charuto na boca já não existe. Quem hoje gere as fortunas não são os donos do dinheiro – são gestores profissionais. As organizações são tão grandes que tem múltiplos centros de decisão, com pessoas a decidir nos vários escalões e em vários planos. Gestores profissionais que são assalariados como os outros trabalhadores. O patrão apenas toma as decisões estratégicas. E mesmo assim não o faz sozinho mas num coletivo.
Um dia escrevi o seguinte: se eu tivesse um milhão de euros para distribuir, o que faria? Daria mil euros a mil pobres ou entregá-los-ia a um bom empresário, por exemplo, Belmiro de Azevedo ou Soares dos Santos?
Se os desse a mil pobres, daí a um ou dois meses não existiria nada. Tê-lo-iam gasto e não restaria um cêntimo. Pior: teriam adquirido hábitos gastadores que não poderiam alimentar – e que os tornariam ainda mais infelizes quando o dinheiro acabasse. Se, pelo contrário, os entregasse a um empresário competente, ele rentabilizá-los-ia – e, ao fim de um ano, o milhão poderia valer 1 milhão e cem mil. E entretanto teria contribuído para o crescimento do país e para a criação de emprego.
No mundo de hoje, o importante – repito – não é a ‘propriedade do dinheiro’ mas o modo como o dinheiro é gerido. O dinheiro circula, pode ser bem ou mal investido – e isso é que importa. Por essa razão é que há países com muito dinheiro que são pobres (como quase todos os que têm petróleo) e países sem nenhuns recursos e que são ricos (como a Holanda).
Na qualidade da gestão é que está o segredo.
E – deixem-me acrescentar – é esta verdade que o PCP e o BE ainda não perceberam. Não perceberam que a perseguição aos ‘ricos’, como eles dizem, só conduz ao empobrecimento das nações. Basta olhar para a História.