CGD. Macedo assume hoje funções com sindicato a pedir aumentos de salários

A par da recapitalização, o sindicato dos trabalhadores da Caixa já chamou a atenção para a necessidade de aumentar os salários e de pôr fim ao congelamento de carreiras. João Lopes vai pedir ainda hoje para se agendar com urgência uma reunião com a nova equipa 

Paulo Macedo e equipa assumem hoje funções na Caixa Geral de Depósitos (CGD) e têm como prioridade máxima o regresso aos lucros. A atual administração, que conta como administradores executivos Francisco Cary, João Tudela Martins, José de Brito, José João Guilherme, Maria João Carioca e Nuno Carvalho Martins, vai ter de pôr em marcha o plano de reestruturação desenhado pelo ex-administrador António Domingues. Cortar gastos, cobrar mais por alguns serviços e reduzir a presença no exterior são algumas das máximas a implementar na instituição financeira.

Paulo Macedo, ainda antes de assumir funções, já tinha admitido que a “Caixa precisa de de-senvolver o seu trabalho e pôr em prática o plano que está aprovado”, ficando assim com muito pouca margem de manobra para avançar com planos alternativos. 

 No entanto, este é apenas um dos desafios que Paulo Macedo vai encontrar. Porque existem mais. Um outro está relacionado com o facto de o ex-ministro da Saúde ter de assumir a responsabilidade de concretizar os planos de reestruturação e recapitalização do banco. 

A primeira fase de recapitalização do banco público foi concluída a 4 de janeiro com o aumento do capital social do banco público em 1445 milhões de euros, através da conversão em capital de 945 milhões de euros (e respetivos juros) dos instrumentos de capital contingentes (CoCos) subscritos pelo Estado em 2012 e de 500 milhões de euros respeitantes à passagem para a CGD das ações da sociedade Parcaixa. Quanto à segunda parte, e também a principal, passará pela injeção pelo Estado português de até 2700 milhões de euros no banco e por uma emissão de dívida subordinada de até mil milhões de euros, a colocar junto de investidores institucionais privados.

Outras reivindicações

Além destas duas imposições, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da CGD, João Lopes, já fez saber que pretende que sejam considerados os aumentos salariais e também o fim do congelamento de carreiras. E como tal, vai pedir já hoje uma reunião com a nova administração. De acordo com João Lopes, um dos problemas é que “desde 2010 não há qualquer alteração salarial e desde 2013 que as carreiras estão congeladas”, referiu em declarações ao i, acrescentando também que quer saber como vai correr o plano de reestruturação – ou seja, se será o mesmo que foi desenhado por Domingues ou se vai sofrer alguma alteração.

João Lopes admite que “a recapitalização vai estar sempre na primeira linha porque é fundamental, mas há uma outra fase que, para nós, é a mais importante, que é a de olhar para quem está no banco. Estamos praticamente há cinco anos encostados à parede, sem revisões salariais e com congelamentos de carreiras, e nenhuma reestruturação poderá ser feita se internamente este problema não for resolvido”, explicou.

Cortes e mais cortes

O plano estratégico criado por António Domingues prevê cortar na remuneração de quem lá tem poupanças que, em termos médios, irá passar de 0,6% para 0,2%. Já quem precisar de crédito vai ter de pagar mais. No conjunto, as duas medidas devem render mais de 400 milhões de euros até 2020.

A verdade é que esta estratégia não é nova. Desde novembro passado que a CGD tem vindo a rever em baixa os juros oferecidos nas suas aplicações a prazo e cortado para metade quase todas as taxas dos novos depósitos e das renovações das poupanças. 

Ao mesmo tempo, o banco vai aumentar as comissões a pagar pela seguradora Fidelidade. Ou seja, quantos mais seguros forem vendidos aos balcões, mais a companhia terá de pagar. A atualização das comissões vai aplicar-se também a alguns serviços prestados aos clientes do banco. Esta medida deverá gerar um ganho na ordem dos 150 milhões de euros.

Encerramentos e saídas

O plano de negócios da instituição prevê ainda o fecho de 180 agências em quatro anos e a saída de cerca de 2200 trabalhadores, sobretudo através de pré-reformas, mas também de rescisões por mútuo acordo. Ainda assim, para já, é um valor que fica abaixo das primeiras estimativas presentes no plano de reestruturação da Caixa e que apontavam para a saída de 2500 colaboradores e o encerramento de 300 balcões. Com esta reestruturação, o banco do Estado prevê reduzir os custos operacionais e diminuir as despesas com pessoal em 75 milhões de euros. 

Mas a este número é preciso ainda acrescentar as 460 saídas ocorridas durante o ano passado. Já em 2015, o banco tinha fechado o ano com menos 448 trabalhadores e o encerramento de 22 balcões. Aliás, os trabalhadores da Caixa continuam a ter acesso ao Plano Horizonte. Já em fevereiro, a CGD disse que, além dos mais de 300 trabalhadores que saíram em 2015 ao abrigo daquele plano, em 2016 poderiam sair ainda mais 700 no mesmo âmbito. 
Já quando apresentou os resultados do primeiro trimestre de 2016, a Caixa revelou que, nos primeiros seis meses do ano, o banco gastou 20 milhões de euros com este plano.

Em relação ao encerramento de balcões, esta posição tem vindo a ser defendida por vários elementos do governo ao garantirem que, nos locais onde irá registar uma diminuição da presença, o banco público vai procurar convénios com outras instituições. Neste cenário tem sido referido que “os interesses da CGD e dos seus clientes passariam a ser assegurados por um outro balcão através de acordo preferencial”.

Uma ideia que agrada pouco ao Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD (STEC), que alerta para “uma brutal redução da atividade da CGD, com as óbvias consequências daí resultantes na sua dimensão e na sua capacidade de intervenção e de resposta no setor bancário, na economia nacional e no apoio às populações”.
Mas os cortes não ficam por aqui. Outro objetivo passa por reduzir a presença da Caixa no exterior. Daí estar prevista a alienação das operações em Espanha, África do Sul e Brasil, bem como o encerramento dos escritórios de Londres e Nova Iorque. Em contrapartida, a instituição financeira deverá manter a sua estrutura nos países africanos de língua portuguesa.