“Para reembolsar [o Parlamento Europeu], teria de ter recebido os fundos. Mas o meu nome não é François Fillon”. Foi desta forma que Marine Le Pen reagiu, em declarações à AFP, quando questionada a esclarecer porque se recusou a devolver cerca de 300 mil euros ao órgão legislativo na União Europeia, utilizados para remunerar uma assistente do Parlamento Europeu, que passou a maior parte do tempo a trabalhar na sede da Frente Nacional, em Paris, e o seu guarda-costas pessoal.
O distanciamento em relação a Fillon – o candidato presidencial d’Os Republicanos e o principal rival de Le Pen na corrida ao Eliseu – deve-se ao mais recente escândalo que sobre ele se abateu e que tem bastantes parecenças com o caso da líder da FN. Fillon está a ser investigado pela justiça francesa devido ao trabalho realizado pela sua esposa, enquanto assistente do próprio, na Assembleia Nacional francesa, apontado pelo “Le Canard Enchaîné” como um trabalho fictício. Segundo uma investigação daquele semanário, Penelope Fillon terá recebido cerca de 500 mil euros do Estado, sem ter realizado qualquer tarefa no parlamento, durante quase uma década.
Quanto a Le Pen, o Parlamento Europeu exigiu-lhe o pagamento de €298,497.87 até à meia-noite de ontem, uma vez que, de acordo com a France 24, o contrato de Catherine Griset estipulava que o seu local de trabalho era em Bruxelas e a assistente do partido de extrema-direita francês foi “incapaz de provar que residia continuamente” na capital belga.
Para além disso, numa carta enviada pelo Serviço Europeu de Luta Antifraude da Comissão Europeia (OLAF) à líder da Frente Nacional, vinha referido que Griset “não se apresentou de forma regular” no Parlamento Europeu, entre 2010 e 2016. E noutra carta, a OLAF exigia ainda a devolução de €41,554, pelo salário pago ao guarda-costas Thierry Légier.
A decisão de não devolver a quantia exigida pelo Parlamento Europeu foi tomada por Le Pen em consciência e justificada pela própria, em declarações à Reuters, por se tratar de uma “decisão unilateral e ilegal”. “Não me irei submeter à perseguição, [nem] a uma decisão unilateral, tomada por opositores políticos, sem quaisquer provas, e sem esperar por um julgamento”, garantiu a candidata à presidência de França.