E Rio, alguém viu?
Depois de dar uma entrevista – por escrito e com retificação póstuma – em que se assumia como putativo candidato à liderança do PSD, promover a criação de (mais um) imposto para o pagamento da dívida, desmentir que apoiaria um congresso antes das autárquicas, negar que motivou a recolha de assinaturas contra Passos Coelho e dar um salto numa conferência para dizer que “não deve haver no mundo performance tão má como a da economia portuguesa”, Rui Rio desapareceu.
Os críticos de Passos não se aproximaram e o aparelho não se entusiasmou: não se vislumbrou sinal de mudança ou face alternativa.
“A vida começou a apertar para a ‘geringonça’ de Costa e a melhorar para a oposição de Passos. Ele ficou sem nada para dizer”, descreve um barão dos sociais-democratas. “Aquilo que preocupa as bases – e o ponto mais vulnerável de Passos Coelho – são as autárquicas, mas Rio mal fala delas”, considera a mesma fonte, ao i.
A outra linha mais distante da direção de Pedro Passos Coelho também ficou estática, pelo menos em matéria de críticas.
No final do mês passado, ocorreu um jantar entre os líderes das distritais do Partido Social Democrata, do qual saiu um documento de compromisso com a direção nacional em prol de “convergências” e contra “agendas pessoais”.
Os impulsionadores do evento, Pedro Alves, de Viseu, e Bruno Vitorino, da distrital de Setúbal, são próximos de Pedro Duarte, que encabeçou uma lista alternativa a Passos para o conselho nacional no último congresso e coordenou a vitoriosa campanha de Marcelo Rebelo de Sousa à presidência da República, em 2016. Tal foi interpretado como um sinal de détente entre a sede nacional e uma linha crítica que também inclui José Eduardo Martins, o atual coordenador autárquico do PSD/Lisboa.
Consenso na bancada Mas se a descrispação interna não chegou para garantir que Martins aceitasse ser candidato à Câmara Municipal de Lisboa, de modo a resolver a encruzilhada autárquica em que a direção se encontra, notou-se, por exemplo, no consenso preambular que tem havido em torno do nome de Luís Marques Guedes para a liderança da bancada laranja. Luís Montenegro, por via estatutária, terá que abandonar o cargo já este ano e Marques Guedes é cada vez mais favorito para a sucessão – tanto para passistas como para não-passistas.
“Para mim tornou-se óbvio que não querendo apoiar Rio no próximo congresso, o Pedro [Duarte] e o Zé [Eduardo Martins] têm duas hipóteses: ou vão eles ou se aproximam da direção atual”, atira fonte do grupo parlamentar que se reservou ao anonimato.
Aí, é de notar que apesar de Marco António Costa ter agora oficiosamente assumido o lugar de primeiro vice-presidente do partido, com intervenções várias e protagonismo evidente, a posição que antes pertencia a Jorge Moreira da Silva [hoje na OCDE] continua vaga e à disposição de encaixar um convertido. Além do vazio, o i sabe que o regresso de Marco António não foi consensual entre os sociais-democratas, nomeadamente na secretaria-geral do partido, liderada por Matos Rosa.
Se já se conseguiu harmonia partidária para a posição que tanto catapultou Montenegro, ainda falta colher algumas ambições parlamentares para o consenso ser geral. Sobre a liderança de bancada, “o Marco António ainda tem uma palavra a dizer e os mais jovens também”, termina a mesma fonte, ao i.
Um Pedro no sapato Se é público que José Eduardo Martins reuniu com Passos para falar sobre as autárquicas em Lisboa, não vindo a público que Pedro Duarte tenha razões para receber semelhante convite, há outro crítico que rumou recentemente à São Caetano à Lapa para dialogar com o presidente do partido. Pedro Rodrigues, ex-líder da Juventude Social-Democrata e antigo deputado do PSD, conversou com Passos Coelho, inclusive acerca da problemática das autárquicas. Recentemente, em entrevista ao Sol, Rodrigues revelava-se disponível para o combate eleitoral deste ano e criticava o trabalho de José Eduardo Martins, mostrando que uma união de críticos, tal como Rui Rio, não é possibilidade que deva apoquentar Passos.
Outra questão levantada por Rodrigues, líder do movimento autónomo Portugal Não Pode Esperar, foi o PSD não poder “chumbar medidas apenas porque elas foram propostas pelo Partido Socialista”, salientando que o chumbo da redução da Taxa Social Única (TSU) era contrário ao “património” do PSD.
“É importante romper com a geringonça, mas não podemos romper com o nosso eleitorado”, atirou o social-democrata, acerca de Passos ter inviabilizado o acordo do governo com a Concertação Social ao lado das esquerdas. Da linha mais distante à direção, Pedro Rodrigues parece o único que mantém as críticas ao modo como Passos Coelho dirige a oposição. É pedra no sapato que está por descalçar.
Rodrigues tocou também num ponto que causa algumas preocupações a nível local. Os números reduzidos que o Partido Social Democrata apresenta em sondagens, a circunstância de prosseguir sem candidato a Lisboa, o acordo autárquico com o CDS tremer e o chumbo de uma medida que beneficiava os pequenos e médios empresários, tendo já sido defendida por Passos, faz com alguns dirigentes temam perdas de popularidade e consequente fracasso eleitoral. No entanto, com as distritais ao lado de Passos e com o único proto-candidato desaparecido em batalha, os autarcas devem ficar pelo que se faz quando não se sabe o que fazer: nada.
Leia mais na edição impressa do jornal i.