Aníbal Cavaco Silva está preocupado com a Europa de hoje.
Nos 25 anos da assinatura do tratado de Maastricht, o ex-chefe de Estado lançou um comunicado à imprensa em que relembra o dia em que assinou Maastricht, em 1992, para uma comunidade europeia mais integrada e a caminho do euro, manifestando as suas preocupações duas décadas e meia depois.
“As dificuldades não terminaram, nem vão terminar”, adverte o professor. “Os desafios adiante são muitos e as incertezas parecem avolumar-se – da crise dos refugiados à falta de crescimento, do terrorismo aos novos protecionismos, do BREXIT às alterações climáticas”, enumera também.
O antigo Presidente da República, que, na altura, também cumpria o mandato da presidência portuguesa no Conselho da União Europeia, defende que “é importante recordar sempre que a Europa nunca teve tanto tempo de paz e de prosperidade como este que conhecemos nas últimas seis décadas”.
Para Cavaco Silva, cabe “aos líderes de hoje permanecerem firmes na defesa dos ideais europeus – os valores de uma sociedade tolerante e humanista, onde cada um possa viver em segurança e respeito mútuo”.
“Espero que os líderes europeus estejam à altura das suas responsabilidades e correspondam, dessa forma, às expectativas dos cidadãos”, afiançou o estadista, em jeito de conclusão, rematando de seguida: “Receio, no entanto, a ignorância de alguns deles em relação às consequências dramáticas que uma ruptura da união monetária teria na vida dos cidadãos”.
Europa, se fizerem favor.
A posição europeísta de Aníbal Cavaco Silva não é novidade, nem nos tempos em que chefiou governos nem nos tempos em que esteve no Palácio de Belém.
Na reta final da sua presidência, aliás, tal foi evidente.
Na noite em que indigitou Pedro Passos Coelho para primeiro-ministro depois das eleições legislativas de 4 de outubro de 2015, apesar da ameaça de chumbo do governo minoritário – que viria a suceder – Cavaco recordou que “em 40 anos de democracia, nunca os governos de Portugal dependeram do apoio de forças políticas antieuropeístas” que “defendem a revogação do Tratado de Lisboa, do Tratado Orçamental, da união bancária e do Pacto de Estabilidade e Crescimento, assim como o desmantelamento da união económica e monetária e a saída de Portugal do euro, para além da dissolução da NATO, organização de que Portugal é membro fundador”. Uma achega bastante evidente aos partidos da esquerda – Bloco e Partido Comunista – que sustentem a contemporânea solução de governo do PS, encabeçada por António Costa.
E o que diz Costa hoje?
Ontem, veio a público um prefácio de um livro em que o primeiro-ministro socialista, António Costa, assumia que “uma rutura quanto à urgência e natureza da reforma da União Económica e Monetária” seria “natural numa União Europeia que à medida que reforçou a integração política foi-se tornando o novo espaço de confronto das diferentes famílias políticas”.
Costa não defende essa rutura da união monetária, mas, no texto que assina, contempla-a como possível. Coincidentemente, fê-lo na véspera do aniversário em que essa união monetária foi consumada, em Maastricht.
Cavaco diz ‘presente’
Algo ausente dos holofotes deste a posse do seu sucessor, Marcelo Rebelo de Sousa, Cavaco Silva abriu esta semana com alguns anúncios.
A nota sobre Maastricht, já citada, outra nota sobre a concessão de licenças a canais privadas, cujo aniversário ontem se celebrou e de que o antigo Presidente diz: “A reforma no sector da comunicação social e, muito em especial, a concessão de licenças para os canais privados de televisão, é um dos legados de que mais me orgulho do meu tempo enquanto primeiro-ministro”, sendo, para si, “um marco incontornável no caminho da democratização do acesso à informação”; mas também a novidade do lançamento de um novo livro de memórias sobre os seus dois mandatos presidenciais.
“Quinta-feira e Outros Dias” será apresentado no dia 16 deste mês, no Centro Cultural de Belém, sendo um relato do próprio professor sobre a sua presidência. O título trata-se de uma referência ao facto de o Presidente da República receber, tradicionalmente, o primeiro-ministro em exercício todas as semanas, à quinta-feira.
Cavaco, como Presidente da República, conviveu com José Sócrates, Pedro Passos Coelho e António Costa como líderes de executivo nacional.